A FEFAC – Federação Europeia dos Fabricantes de Alimentos (European Feed Manufacturers’ Federation, na signa em inglês), apoiada por várias organizações congéneres, entre elas a portuguesa IACA – Associação dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais, lançou em setembro, com o “apoio de alguns eurodeputados”, a campanha “European Livestock Voice”. Trata-se de uma plataforma que pretende ser “a voz do setor na União Europeia”.
A Federação considera que “o setor pecuário está hoje no epicentro de debates públicos na Europa e a nível mundial, que têm sido dominados por grupos de interesse que apenas pretendem espalhar mitos e visões radicais sobre a atividade pecuária”. O problema é que, diz a FEFAC, esses “mitos e opiniões”, “ampliados pelas redes sociais e pela imprensa”, acabam por “retratar uma imagem que nada tem a ver com a realidade vivida todos os dias por milhares de agricultores e profissionais europeus que trabalham no terreno, em toda a fileira”.A FEFAC foi fundada em 1959 por cinco associações nacionais de alimentos (França, Bélgica, Alemanha, Itália e Holanda). Agrega hoje 24 associações nacionais em 23 Estados-membros da UE (entre elas a IACA) como membros de pleno direito, bem como associações na Suíça, Turquia, Noruega, Sérvia e Rússia com estatuto de observador/associado. Tem ainda estatuto de observador no CODEX Alimentarius.
“Espinha dorsal das zonas rurais da Europa”
Para combater essa “desinformação”, a European Livestock Voice desenvolveu o seu próprio centro de informação, um portal online (https://meatthefacts.eu/) que “revê com exatidão as afirmações mais frequentes sobre a produção animal, o consumo e os seus benefícios”. Entre os conceitos que querem ver desmistificados, há quatro principais. São eles:
“NÃO – Um quilo de carne não exige 15 mil litros de água para ser produzida”; “SIM – A dimensão média das explorações pecuárias na Europa é inferior a 50 hectares e a Europa continua a ser um modelo de agricultura familiar”; “NÃO – A utilização de terrenos para alimentação animal não compete necessariamente com a alimentação humana”; “SIM – Os agricultores europeus cuidam dos seus animais, pois é plenamente do seu interesse assegurar a saúde e bem-estar dos seus animais”.
A plataforma “acredita” e está “convencida” que “o modelo de pecuária da União Europeia [UE], baseado em estruturas agrícolas diversificadas, locais e familiares, é a espinha dorsal das zonas rurais da Europa”. Tanto mais porque “apoia um grande número de postos de trabalho e de indústrias, contribui para a abordagem circular no seio da bioeconomia da UE, assegurando simultaneamente um aprovisionamento estável e acessível de alimentos suficientes, seguros e nutritivos, bem como de muitos outros produtos e subprodutos, necessários para um estilo de vida saudável ou indústrias criativas da Europa”.
Para os promotores da plataforma, “remover a pecuária da Europa teria consequências severas, conduzindo ao abandono e a (mais) desertificação, sobretudo em Portugal”. Aliás, acrescentam, “sem animais, a Europa perderia terras de pastagem essenciais, enfrentaria mais incêndios florestais, necessitaria de mais fertilizantes orgânicos, energia verde e muitas outras matérias-primas essenciais, contribuindo para um maior êxodo rural”. E, “ao mesmo tempo, teria de se basear nas importações de produtos de origem animal, com menos controlo sobre as normas de produção e potenciar a procura de materiais à base dos combustíveis fósseis”.
Projeto PEFMED ajuda a reduzir a pegada ambiental As empresas de alimentos para animais definiram como meta reduzir o impacto ambiental. E o projeto PEFMED – Mediterranean Product Environmental Food Print, que mede e classifica, de forma voluntária, a pegada ambiental do setor, pode ajudar nesse desiderato. Esta iniciativa industrial, na bacia mediterrânica, “pretende contribuir para tornar o setor mais amigo do ambiente, inovador e transparente através de uma certificação ambiental”. O secretário-geral da IACA – Associação dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais, Jaime Piçarra, explicou, aquando da apresentação das conclusões do projeto em fevereiro na FIL (Lisboa), que Portugal é o primeiro país europeu a implementar esta ferramenta através de um projeto piloto realizado numa empresa portuguesa. Note-se que o PEFMED considera os impactos de um produto ao longo do ciclo de vida, desde o cultivo e aprovisionamento de matérias-primas, até à transformação, transporte, utilização e até à eliminação e reciclagem. As empresas associadas da IACA dão emprego a cerca de 3500 pessoas e movimentam anualmente cerca de 1400 milhões de euros (cerca de 12% da indústria agroalimentar). Mas, se a este valor se somar o gerado pela atividade pecuária, o volume de negócios conjunto atinge 2760 milhões de euros. A adesão da IACA ao projeto PEFMED integra-se na estratégia da Federação Europeia de Fabricantes de Alimentos Compostos (FEFAC) e na Visão 2030 da Associação. |
TERESA SILVEIRA teresasilveira@vidaeconomica.pt, 04/10/2019