Quem o afirma é o Presidente da Forestis, Carlos Duarte que participou esta quarta-feira, no programa Ordem do Dia do Porto Canal, conduzido pelo jornalista João Pereira, juntamente com Bruno Antunes, coordenador regional da AGIF, sobre a temática dos incêndios florestais.
O líder da Associação Florestal de Portugal destacou o grave problema do abandono do território no interior do país, onde existe uma deficiente gestão dos espaços florestais. “Neste momento grande parte da área ardida são matos e terrenos abandonados. O que está a arder não tem qualquer tipo de gestão, porque os povoamentos florestais com gestão ativa quer seja de eucalipto, sobreiro, pinhal, ou outra espécie qualquer, têm evidenciado uma resiliência ao fogo”, evidenciou.
Sobre Plano de Intervenção para a Floresta 2025-2050, apresentado pelo Governo em março deste ano, Carlos Duarte é pragmático: “mais importante que os planos, porque estamos fartos de ter planos (…) é a sua implementação. Temos vários e somos muito bons na conceção dos planos. Fazer planos sem implementação é um desperdício!”
O líder da Forestis considera que é um plano ambicioso, “mas é fundamental que seja concretizado através de um pacto político, envolvendo os partidos políticos, os agentes económicos do setor e que tenha uma visão de longo prazo e que seja intergeracional. Importa é que, num curto prazo o atual Governo apresente um conjunto de medidas para poder compensar os prejuízos e indemnizar os proprietários agrícolas(…). Contudo em relação aos proprietários florestais não há qualquer referência qualquer indeminização prevista. Seria fundamental um apoio para compensar a perda de rendimento dos povoamentos florestais atingidos, para retirar material lenhoso (varas) sem valor económico e para executar as ações pós incêndios, de forma a evitar a erosão dos solos”.
“Temos de apostar claramente numa gestão ativa e sustentável dos espaços florestais, em que a sustentabilidade tem de ter uma importante dimensão ambiental, pela importância estratégica que tem para o país ao nível da qualidade do ar, na proteção dos recursos naturais como a água e o solo, a valorização da paisagem, etc”, vincou o Presidente da Forestis.
Carlos Duarte ressalva que os proprietários privados são responsáveis por 97% da floresta, naturalmente “estão cansados de gastarem dinheiro sem qualquer expetativa de retorno económico. Limpar a floresta significa mais de 1200 euros ha/ ano. Ao nível de volume de negócios do setor florestal, a produção tem 9%, cerca de 1400 milhões por ano, a indústria e a comercialização têm cerca de 12 mil e 600 milhões, ou seja 91%. São necessárias políticas públicas que defendam uma maior regulação ao nível das fileiras florestais com maior partilha dos rendimentos, com políticas ativas, em que o Estado deverá ter como parceiras as OPF- Organizações de Produtores Florestais, como a Forestis que está disponível e interessada em contratos programa, para poder executar tarefas de gestão ativa nas áreas em que os proprietários estão longe da sua propriedade, ou não têm condições para as executar.
O Presidente da Forestis afiançou que tem faltado “vontade política, para alocarmos os recursos financeiros. Quando se fala em 5% do PIB para a Defesa, na Floresta seria importante assegurar o minino de 0,5 % do PIB, 1400 milhões de euros por ano, bem distribuídos seriam claramente uma dotação que podia promover políticas ativas de fomento florestal, de reflorestação dos territórios, revitalização desses territórios e criação de emprego e riqueza, com redução clara ao nível dos riscos de incêndios”.
O dirigente associativo enalteceu o importante papel das Organizações de Proprietários Florestais, defendendo um regime jurídico de reconhecimento dessas organizações.
Carlos Duarte, lembrou ainda que o PEPAC, tinha previsto uma verba de 270 milhões de euros em seis anos, “em dezembro o Governo retirou 120 milhões para compensar outras medidas. Por isso, as florestas ficaram com uma verba residual. Há aqui um conjunto de redução de verbas com significado. Seria importante repor este financiamento, que é fundamental apoiar o investimento na reflorestação, quer das áreas ardidas, quer das áreas abandonadas”.