O problema é transversal a praticamente a todos os setores de atividade, mas se para uns não há para os trabalhos básicos, para outros falta qualificação. O jornal fez um levantamento das dores de cabeça dos principais setores económicos do país, que transmitem as suas preocupações e levantam o véu em relação à possível solução do problema. […]
Agricultura
“A escassez de mão-de-obra neste setor verifica-se sobretudo na atividade das colheitas, para as tarefas nas quais as soluções mecânicas e tecnológicas ainda não constituem uma alternativa viável, e com uma dimensão sazonal própria do setor. Neste caso, a oferta nacional tem sido insuficiente para estas necessidades, tornando necessária a contratação de imigrantes. A mão-de-obra disponibilizada pelo IEFP é escassa e apresenta um perfil pouco adequado, com falta de aptidão ou interesse para as tarefas em causa”, diz ao nosso jornal, Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).
O responsável refere que há “muito poucos candidatos interessados em trabalhar no setor agrícola”, defendendo que o o recurso à mão-de-obra imigrante “torna-se incontornável”. No entanto, lembra que, neste setor, as funções especializadas são, de uma forma geral, remuneradas ao nível de outros setores de atividade, senão mesmo acima da média para funções muito específicas, ainda que, como é natural, as tarefas indiferenciadas tenham uma remuneração inferior, o que naturalmente ocorre também na generalidade das atividades económicas. “O setor agrícola tem, contudo, desvantagens específicas que se relacionam sobretudo com opções políticas que repetidamente desvalorizam a importância do setor agrícola. Por exemplo, os sucessivos governos no nosso país nada fazem para corrigir a assimetria regional entre o litoral e o interior e, pelo contrário, assumem opções económicas e sociais que tendem a agravar esta realidade, comprometendo a atratividade laboral do setor agrícola, uma vez que esta atividade se pratica nas zonas rurais, onde infelizmente há cada vez menos pessoas. O problema do acesso à habitação e a retirada de serviços essenciais ao nível da saúde, das comunicações e das infraestruturas de uma forma geral por parte do Estado, em nada contribuem para melhorar esta situação”.
E garante que a contratação de imigrantes tem sido sistematicamente dificultada pelos atrasos na emissão de vistos. “A CAP tem vindo a diligenciar junto das entidades oficiais para que o Governo dedique uma atenção especial aos diversos Postos Consulares, nomeadamente no que diz respeito à emissão de vistos com celeridade. Os empregadores queixam-se de recorrerem ao IEFP sem qualquer êxito no que diz respeito à satisfação das necessidades de mão-de-obra. A única saída para um setor que se encontra a crescer como o agrícola parece ser a contratação de trabalhadores imigrantes provenientes de Estados terceiros, o que exige celeridade e profissionalismo do lado da Administração Pública Portuguesa na emissão de vistos. A contratação de tais trabalhadores estrangeiros representaria um acréscimo significativo das receitas da Segurança Social e os empregadores, além de terem ao seu dispor a mão-de-obra necessária, aumentariam as contribuições para a Segurança Social”, refere ao i .
Supermercados
Falta de mão-de-obra que é transversal aos supermercados e que já levou o diretor-geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) a dizer ao nosso jornal que existe “dificuldade em recrutar para algumas áreas específicas, sobretudo as que são bastante técnicas, que exigem algum conhecimento e formação”. Gonçalo Lobo_Xavier admitiu ainda que existe um “esforço por valorizar o setor e a carreira na distribuição e por valorizar a atratividade de trabalhar no setor da distribuição, quer falemos de retalho alimentar, quer falemos no retalho especializado. Estamos todos a lutar no mercado aberto por melhores recursos humanos. Estamos a tentar formar melhor”. […]