Novo estudo internacional, com investigadores do MED&CHANGE da Universidade de Évora, conclui que a magnitude dos impactos da desflorestação pela agricultura na biodiversidade difere geograficamente. O estudo colaborativo à escala global recentemente publicado na revista Nature Ecology & Evolution sugere que regiões geográficas com histórico agrícola mais longo ou ambientes naturais mais variáveis tendem a suportar comunidades de aves que são mais tolerantes à desflorestação. O trabalho foi liderado pela Universidade de Pequim, contando com a participação de três investigadores do MED&CHANGE da Universidade de Évora.
A agricultura é a base da civilização humana e um exemplo crasso do nosso impacto na Terra. Cerca de 40% da superfície terrestre que não está gelada, muita dela outrora coberta de floresta, está agora dedicada à agricultura. À medida que aumenta a procura de alimentos, aumenta também a desflorestação motivada por interesses agrícolas, que é atualmente reconhecida como uma das maiores ameaças à biodiversidade global. Contudo, um novo estudo descobriu que a magnitude do impacto da agricultura na biodiversidade varia amplamente em todo o mundo. As condições ambientais naturais e o histórico de influência humana de cada região atuam essencialmente como filtros sobre a comunidade de aves determinando que espécies estão hoje presentes numa região, e qual a sua tolerância a mudanças ambientais, nomeadamente, à desflorestação causada pela atividade agrícola.
Isto significa que a biodiversidade em algumas regiões do mundo está inerentemente mais ameaçada pela expansão da agricultura do que em outras. Mais preocupante é que muitos dos pontos críticos onde se prevê maior desflorestação mediada pela agricultura se situam em centros de elevada biodiversidade, nomeadamente áreas tropicais com histórico agrícola mais recente ou condições ambientais mais constantes. Assim se explica por que muitas espécies da Amazónia equatoriana, apenas recentemente expostas à agricultura, sejam altamente sensíveis à desflorestação, comparativamente com outras regiões.
O exemplo dos agroecossistemas do sul de Portugal: os agroecossistemas, como o caso do Montado, constituem-se como uma paisagem multifuncional, evidências de uma influência humana histórica. Se por um lado a matriz heterogénea tem permitido a manutenção de refúgios mais naturais, por outro, o tipo de gestão extensiva promoveu uma maior adaptabilidade das comunidades de aves ao próprio sistema, tornando-as mais tolerantes e resilientes à desflorestação. O Montado é, de facto, um sistema de gestão a preservar porque alia à produção um elevado valor de biodiversidade.
O estudo envolveu 47 investigadores de todo o mundo, resultando da análise de uma base de dados de 71 comunidades regionais de aves e 2.647 espécies de aves.
Artigo publicado originalmente em UÉvora.