O momento faz com que sejam mais frequentes os contactos entre a indústria e os produtores de leite. Para já, o acesso à matéria-prima faz-se sem problemas nem previsão de ruturas, garante Fernando Cardoso, secretário-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite (FENALAC). O único entrave tem sido a “falta de pessoal”, que tem obrigado os operadores a “grandes esforços”.
Na terra das vacas felizes, a produção de leite não pára. Há meia dúzia de semanas, Tayeb Mouhcine estava longe de imaginar que a Bel Portugal teria de recorrer aos “stocks” de emergências para conseguir responder a tanta procura em tão pouco tempo. Em março, as vendas do grupo que produz os queijos Terra Nostra e Limiano subiram cerca de 10%, conta o diretor-geral da Bel para o Sul da Europa. A procura por alguns produtos chegou a aumentar 20%.
Que o diga a Lactogal, que só no mês passado colocou no mercado, incluindo o externo, 54 mil toneladas de produtos, entre leite, queijos, iogurtes, bebidas lácteas, águas e sumos. O aumento foi de quase 14% face ao mesmo período do ano passado. Agora é altura de a indústria “aprender a adaptar-se a esta nova dinâmica, porque acabou o ‘sprint’ mas vamos entrar na maratona”, confessa Tayeb Mouhcine.
O momento faz com que sejam mais frequentes os contactos entre a indústria e os produtores de leite. Para já, o acesso à matéria-prima faz-se sem problemas nem previsão de ruturas, garante Fernando Cardoso, secretário-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite (FENALAC). O único entrave tem sido a “falta de pessoal”, que tem obrigado os operadores a “grandes esforços”.
Este é, aliás, um efeito secundário do vírus que tem alastrado por toda a indústria. Há pais em casa com os filhos ou situações inevitáveis de quarentena, como a do maior produtor agroalimentar do país, que tem quase meia centena de trabalhadores confinados ao cordão sanitário de Ovar.
Os responsáveis da Lactogal, que detém marcas como a Mimosa, Vigor ou Matinal, estão a fazer um esforço “sem precedentes” para gerir uma força de trabalho que em Portugal continental chega às 1.500 pessoas.
Tal como a Bel, também a dona da Mimosa teve dificuldade em responder ao volume de encomendas nas primeiras semanas do estado de emergência. A Lactogal optou por se concentrar “nas gamas de produtos essenciais”, e mesmo assim as entregas de bens como leite, bebidas lácteas e queijos ficaram aquém dos pedidos.
Mas nem todos têm a mesma história para contar. É o caso do setor dos queijos artesanais, que “está a sofrer e com uma perturbação muito grande”, diz Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP. “Não sei porquê mas as pessoas reduziram o consumo, em particular do queijo fresco”. Com muitos restaurantes fechados, os queijos tradicionais de ovelha e cabra têm menos procura. Mas os produtores continuam a ter de ordenhar os animais todos os dias. “Estão a deitar leite fora, o que é uma incongruência.”
O artigo foi publicado originalmente em Jornal de Negócios.