De acordo com a consultora, empresas do setor podem tornar-se mais resilientes ao privilegiar cadeias de abastecimento locais, investir na eficiência energética e adotar uma gestão financeira proativa
O desempenho do setor agroalimentar está a abrandar, como resultado da volatilidade sentida tanto no cenário internacional como no panorama nacional. Um dos indicadores que retrata bem esta realidade é o número de trabalhadores nas atividades agrícolas e de produção animal que teve uma quebra de 10% face a 2023, invertendo a tendência de crescimento observada desde 2021. Além disso, também a criação de novas empresas no retalho, em especial no segmento alimentar, caiu 11% no primeiro semestre do ano, segundo os dados mais recentes do Barómetro da Informa D&B.
“A atual instabilidade geopolítica tem exercido um impacto muito direto na sobrevivência e na adaptabilidade do setor agroalimentar. Em toda a cadeia de abastecimento, existe uma pressão constante para manter a sustentabilidade, ao mesmo tempo que se geram aumentos de custos em áreas críticas como a logística, a energia e a relação com fornecedores. Como forma de navegar esta imprevisibilidade, a Europa tem sido forçada a direcionar o foco para uma produção e um abastecimento mais locais, mas é importante que continue a investir em estratégias que lhe permitam inovar e diversificar a sua oferta, principalmente no cenário cada vez mais complexo e desafiante”, afirma João Pontes, senior partner da ERA Group.
Neste contexto, a ERA Group, consultora especializada na otimização de processos e custos, identifica três táticas fundamentais para o setor reforçar a sua resiliência, aumentar a competitividade e recuperar a sua performance.
- Cadeias de abastecimento e logística mais resilientes
A aplicação de tarifas alfandegárias, restrições ao comércio internacional e sucessivos bloqueios logísticos, decorrentes da crescente incerteza geopolítica, têm provocado disrupções significativas nas cadeias de abastecimento — refletindo-se, especialmente, nos custos de transporte e na capacidade de cumprir prazos de entrega. Para mitigar estes riscos, as empresas devem optar por renegociar contratos e diversificar a sua base de fornecedores, privilegiando cadeias mais locais e alternativas nacionais que reforcem a resiliência e a previsibilidade operacional. Esta abordagem permite não só uma resposta mais ágil perante interrupções globais, como também alinha o setor com as novas exigências de segurança e sustentabilidade que caracterizam os mercados internacionais.
- Investir na eficiência energética e de matérias-primas
A volatilidade nos preços de energia e a escassez de matérias-primas representam hoje uma ameaça significativa à rentabilidade do setor. Para mitigar o impacto económico destes desafios, as empresas devem investir na eficiência energética e implementar uma monitorização contínua das categorias de consumo que lhes permita identificar áreas internas de melhoria. A realização periódica de auditorias energéticas e a adoção de tecnologias avançadas, que podem reduzir o desperdício e otimizar os processos produtivos, são tarefas essenciais para reforçar a competitividade dos negócios. Além disso, é fundamental adotar estratégias eficazes de gestão de matérias-primas, nomeadamente a diversificação da origem das mesmas e a implementação de soluções mais circulares, que valorizem subprodutos e minimizem perdas ao longo da cadeia produtiva.
- Foco numa gestão financeira proativa
O aumento contínuo dos custos operacionais, conjugado com a pressão para manter preços competitivos, está a comprimir de forma significativa as margens das empresas agroalimentares e a limitar a sua capacidade de reinvestimento. Neste contexto, torna-se essencial estruturar planos financeiros flexíveis e adaptados à volatilidade, incorporando diferentes cenários de risco que permitam antecipar flutuações de custos e de procura. As empresas que desenvolvem modelos previsionais e planos de contingência robustos conseguem identificar com maior precisão as áreas prioritárias de redução de custos e alocar recursos de forma mais eficiente.
Fonte: ERA Group