O vírus da diarreia viral bovina (BVDV) custa ao sector pecuário dos Estados Unidos milhares de milhões de dólares por ano. Por isso, os cientistas utilizaram ferramentas de edição genética para criar um bezerro capaz de resistir a este vírus. Este é o primeiro bovino geneticamente editado resistente ao BVDV.
O BVDV é um dos vírus mais importantes que afectam a saúde e o bem-estar dos bovinos em todo o mundo. Os investigadores têm-no estudado desde os anos 40, quando foi reconhecido pela primeira vez. Não afecta os seres humanos, mas é altamente contagioso entre os bovinos, podendo causar doenças respiratórias e intestinais graves.
O BVDV pode ser fatal para as vacas grávidas porque pode infetar os bezerros em desenvolvimento, causando abortos espontâneos e baixas taxas de natalidade. Alguns bezerros infetados sobrevivem até ao nascimento e permanecem infetados durante toda a vida, transmitindo grandes quantidades de vírus a outros bovinos. Apesar de existirem vacinas há mais de 50 anos, o controlo da doença pelo BVDV continua a ser um problema, uma vez que as vacinas nem sempre são eficazes na interrupção da transmissão.
No entanto, nos últimos 20 anos, a comunidade científica descobriu o principal recetor celular (CD46) e a zona onde o vírus se liga a esse recetor, causando a infeção nas vacas. Num estudo recente, publicado na PNAS Nexus, os cientistas modificaram o local de ligação do vírus para bloquear a infeção.
Segundo Aspen Workman, autor principal do estudo e investigador do U.S. Meat Animal Research Center (USMARC) da ARS em Clay Center, Nebraska, “o objetivo era utilizar a tecnologia de edição de genes para alterar ligeiramente o CD46, de modo a que não se ligasse ao vírus, mas mantivesse todas as suas funções normais nos bovinos”.
Os cientistas começaram por testar esta ideia em cultura de células. Depois de terem visto resultados promissores em laboratório, editaram células da pele de bovinos para desenvolver embriões portadores do gene alterado. Estes embriões foram transplantados em vacas de substituição para testar se esta abordagem poderia também reduzir a infeção pelo vírus em animais vivos. Funcionou. A primeira bezerra com o gene CD46 alterado, chamada Ginger (na foto), nasceu saudável em 19 de julho de 2021. A bezerra foi observada durante vários meses e, mais tarde, ‘desafiada’ com o vírus para determinar se poderia ser infetada. A bezerra co-habitou durante uma semana com um bezerro leiteiro infetado com BVDV que nasceu com o vírus. As células de Ginger mostraram uma suscetibilidade significativamente reduzida ao BVDV, o que não resultou em efeitos adversos observáveis para a saúde.
Os cientistas continuarão a observar de perto a saúde de Ginger e a sua capacidade de produzir e criar os seus próprios bezerros.
Este estudo de prova de conceito demonstra a possibilidade de reduzir o peso das doenças associadas ao BVDV no gado através da edição genética. O bezerro geneticamente editado também representa uma oportunidade potencial para diminuir a necessidade de antibióticos na agricultura, uma vez que a infeção por BVDV também coloca os bezerros em risco de doenças bacterianas secundárias. Esta característica promissora ainda se encontra em fase de investigação e, neste momento, nenhuma carne de bovino associada está a entrar no abastecimento alimentar dos EUA.
Este estudo resulta de uma colaboração entre o Serviço de Investigação Agrícola do USDA, a Universidade de Nebraska-Lincoln, a Universidade de Kentucky e parceiros industriais, Acceligen e Recombinetics, Inc.
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O artigo foi publicado originalmente em CiB - Centro de Informação de Biotecnologia.