Há já algum tempo que se instalou um clima de tensão entre os que exigem a protecção do lobo ibérico e grupos de criadores de gado que defendem que a população deve ser controlada.
As duas cabeças de lobo foram deixadas de manhã cedo da passada sexta-feira, na porta da Câmara Municipal de Ponga (Astúrias). A “descoberta macabra” como descreve o diário espanhol El País aconteceu pouco tempo antes da presidente da Câmara Marta María Alonso chegar à autarquia num dia em que a agenda incluía uma reunião do Conselho de Governo com o presidente do principado, o socialista Adrián Barbón.
O sinistro “recado” deixado nas escadas da entrada da câmara é mais uma prova do clima de tensão que se vive desde que se proibiu a captura deste animal (Canis lupus signatus) que que em 2021 passou a estar incluído na Lista de Espécies da Fauna Selvagem em Regime de Protecção Especial (LESRPE). O controlo das populações de lobos que vivem naquela área deixou de ser permitido e, com essa protecção, há mais animais na região. O problema é que os ataques ao gado também aumentaram.
Os protestos contra esta decisão de protecção existem desde há muitos anos, num difícil equilíbrio entre a protecção desta espécie e os interesses dos criadores de gado que condenam os ataques dos lobos aos seus animais e as demoradas e insuficientes indemnizações pelos danos causados. Desta vez, o desagrado destes grupos foi mostrado de forma violenta, num acto que foi condenado pelos governantes e também por criadores de gado.
Em declarações ao El País, o biólogo e especialista em lobos Juan Carlos Blanco descreve a acção como uma forma de “chantagem, mafiosa, à moda do Padrinho”. E o diário espanhol lembra que “não é a primeira vez que algo semelhante acontece no Principado: em 2017, apareceram vários exemplares mortos que foram expostos em locais públicos […]