As primeiras larvas de Drosófila-da-asa-manchada foram encontradas no Japão, em junho de 1916, na cultura da cereja. Em 1931 o Dr. Shounen Matsumura conseguiu identificar os adultos e designou a espécie como Drosophila suzukii Matsumura, tornando-se, na altura, conhecida como a Drosophila da Cereja. Contudo esta praga não se cingiu só à cultura da cereja e, atualmente, é conhecida, para além do alto poder de disseminação, pela sua ampla apetência por diversas culturas, em particular, do género Vaccinium, Rubus, Prunus, Fragaria, Vitis, Ficus, Actinidia, Rhamnus, Lonicera, Sambucus, entre outros. A oriente foi registada pela primeira vez no Havaí em 1980 e depois, simultaneamente, no ano de 2008 no continente americano e europeu. Em Portugal, as primeiras deteções tiveram lugar no ano de 2012, na região de Odemira e, em 2013, na região Centro em diospireiro e mirtilo. O ano 2014 foi marcado por severos ataques nas principais zonas de produção de pequenos frutos e, desde então e sempre que as condições são favoráveis ao seu desenvolvimento, que os prejuízos para o sector têm sido avultados. Face ao seu alto poder de disseminação e sua importância económica potencial, a Drosophila suzukii pertence à lista A2 da Organização Europeia de Proteção de Plantas.
Os machos são identificados pela mancha negra que apresentam nas asas, no entanto, estas manchas não são visíveis quando o macho emerge, levando 8-10 horas a formarem-se totalmente (Figura 1). Também são caracterizados pelos dois pentes presentes nas patas. As fêmeas não possuem estas características, mas sim um ovipositor muito serrilhado que lhe permite perfurar a pele dos frutos e colocar os ovos no seu interior (Figura 2). A picada evidencia-se pela presença de dois espiráculos (tubos de respiração) que estão ligados ao ovo e que se estendem para fora da fruta através do orifício de postura. As larvas eclodem após 1 a 3 dias e desenvolvem-se no interior do fruto alimentando-se da polpa. Estas passam por três instares larvares, tendo uma duração de 3 a 13 dias. O estado de pupa tem duração de 3 a 15 dias. A maturidade reprodutiva do macho só é alcançada 1 a 2 dias após emergir e as fêmeas colocam, ao longo da vida, entre 300-600 ovos. Os adultos vivem entre 21 e 66 dias, estando a sua atividade dependente, entre outros fatores, da temperatura. Com temperaturas inferiores a 5°C e superiores a 30ºC permanecem imóveis, retomando alguma atividade a partir dos 10°C, sendo os 21°C a temperatura ótima. Tem preferência por zonas sombrias e húmidas (HR>60%) e a precipitação e vento forte, são condições desfavoráveis.
A sua deteção precoce é a chave para o sucesso, sendo o recurso a armadilhas de monitorização o método mais eficiente. Recomenda-se a colocação de duas armadilhas, no interior e bordadura da parcela. A colocação das armadilhas de monitorização deve ser aquando da formação do fruto, preferencialmente, na zona mais sombria da copa e o mais próximo possível do solo. Estudos revelaram que nos dispositivos colocados nas zonas mais expostas ao sol, o número de capturas é consideravelmente menor. Podem ser utilizadas armadilhas tradicionais, conforme Figura 3, porém a sua colocação requer alguns cuidados tais como: proceder quinzenalmente à substituição do conteúdo (isco constituído por 250 ml vinho tinto + 250 ml água ou 500 ml água + 1 colher de fermento de padeiro + 4 colheres de açúcar); não deitar o conteúdo na parcela, mas sim num saco ou bidão plástico, que, após bem fechado, deve ser exposto ao sol durante 4 a 5 dias; após a solarização esvaziar para uma cova com mais de 50 cm de profundidade e cobrir com terra.
Uma praga de difícil controlo e torna-se essencial recorrer a uma estratégia que integre todos os meios de luta disponíveis
A Drosófila-da-asa-manchada é uma praga de difícil controlo e torna-se essencial recorrer a uma estratégia que integre todos os meios de luta disponíveis visando, não só a cultura, mas também os hospedeiros presentes na envolvência das parcelas, uma vez que contribuem para a sua sobrevivência e disseminação. Como medidas culturais, privilegiar o controlo da vegetação de modo a promover entrada de luz, arejamento e diminuição do nível de humidade; eliminar hospedeiros que estejam nas proximidades das parcelas; fazer uma colheita seletiva e com maior frequência; retirar, antes da mudança de cor, os frutos das variedades polinizadoras; manter as parcelas limpas, colocando em sacos/bidões plásticos os frutos estragados e sobre maduros, solarizar e seguir os procedimentos atrás referidos. A bibliografia também refere a possibilidade de utilizar redes de proteção com malha inferior a 1 mm e a utilização, na envolvência da parcela, de infraestruturas ecológicas com espécies repulsivas. A nível biológico encontram-se identificados insetos parasitóides e predadores, sendo de salientar a importância da fauna auxiliar autóctone no equilíbrio do ecossistema agrícola. Aconselha-se assim a fomentar práticas para sua preservação e incremento, minimizando a aplicação de inseticidas e optando pelos menos tóxicos para os insetos auxiliares e polinizadores. Como meio de luta biotécnica, a captura em massa, utilizando dispositivos com iscos atrativos, é um método eficaz que permite reduzir o nível populacional da praga. Se a opção for as garrafas de plástico já descritas o seu número deve ser reforçado, ao inicio da mudança de cor dos primeiros frutos, para 90 a 100 garrafas/ha, distribuídas, alternadamente, pela parcela. A colocação na vegetação envolvente também é benéfica, em particular, nas culturas sob abrigo, de modo a evitar atrair drosófilas para o interior. Tendo em conta que os adultos estão sempre presentes, a captura massiva deve ser praticada durante todo o ano, promovendo-se, desta forma, uma diminuição da população. Existem no mercado soluções comerciais para as quais se recomenda seguir as indicações do fabricante. A luta química não é eficaz se não for conjugada com os meios de luta anteriormente descritos e devem ser utilizadas, única e exclusivamente, as substâncias ativas autorizadas pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária.
Vanda Batista
Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro
Publicado na Voz do CAmpo n.º 224 (março 2019)
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