Os produtores da Cooperativa Agrícola de Boticas (CAPOLIB), de produtos como carne barrosã ou mel do barroso, estão a evitar quebras nas vendas devido à pandemia covid-19 graças à diversificação dos canais de distribuição, disse hoje o presidente.
“Tivemos duas semanas de quebras grandes, mas agora estamos a retomar a normalidade, que no caso da carne barrosã é a comercialização de 40 vitelas por semana”, adiantou à agência Lusa o presidente da CAPOLIB, de Boticas, no distrito de Vila Real, Albano Álvares.
Como forma de contornar as quebras devido à pandemia covid-19 o responsável explicou que o modelo da associação passa por ter “vários clientes” o que permitiu “resolver o problema”.
“Trabalhamos com lojistas, supermercados, vendemos para talhos e restaurantes, e também exportamos, pois nesta altura estávamos a enviar produtos para Macau”, contou.
Com as exportações para Macau paradas e a restauração “completamente encerrada”, a solução foi encontrada nas “grandes superfícies comerciais”.
“Temos uma diversificação muito grande de fontes de distribuição e agora quando surgiu esta pandemia pedimos às grandes superfícies para nos ajudarem a resolver o problema”, revelou o responsável pela CAPOLIB que conta com 600 produtores espalhos por Trás-os-Montes.
“Algumas grandes superfícies comerciais estão a colaborar connosco e a ter uma parceria bastante forte”, vincou Albano Álvares.
Quer os agricultores, quer os produtores de carne barrosã e do mel de barroso, produtos dos concelhos de Boticas e Montalegre, estão assim a evitar sentir grandes dificuldades, acrescentou.
Mas alertou: “isto é muito subjetivo, nunca se sabe como vamos acordar amanhã, mas em dias de incerteza estamos a conseguir facilitar a vida graças a um grande número de canais de distribuição”.
Um dos canais que já existia anteriormente, a venda a particulares de carne barrosã em vácuo, também tem permitido escoar o produto.
“Já fazemos isso há muitos anos e estamos a entregar a carne embalada em vácuo na casa das pessoas”, revelou.
A região do barroso, nos concelhos de Montalegre e Boticas, está desde 2017 classificada como Património Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Albano Álvares reforçou ainda que esta situação deve ser um momento de aprendizagem para todos, pela necessidade de existir cooperação.
“Há males que acontecem e nos trazem alertas. É importante dizer à pequena agricultura que temos de nos juntar, os que estão organizados mal ou bem vão tendo alguma forma de comercializar. Os que estão à parte das organizações ficam com problemas gravíssimos”, lembrou.
Para o presidente da CAPOLIB é necessário refletir no futuro sobre formas de evitar “este tipo de problemas”.
“Não conheço outra solução. Se os produtores barrosões não estivessem organizados certamente teriam problemas como têm outros produtores e até outros setores de atividade”, realçou.
Albano Álvares considera fundamental ter canais de comercialização pelo mundo e ter todos os produtores a “puxar para o mesmo lado” e a “evitar guerras inúteis”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 54 mil.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 246 mortes, mais 37 do que na véspera (+17,7%), e 9.886 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 852 em relação a quinta-feira (+9,4%).
Dos infetados, 1.058 estão internados, 245 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 68 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, mantém-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.
O artigo foi publicado originalmente em RTP.