DIREITO DE RESPOSTA – APIC (Associação Portuguesa dos Industriais de Carne)
Ao Jornal Público, ao artigo: “Pagámos às centrais a carvão para fecharem. Chegou a hora dos matadouros?”, Stephanie Walton Att. Editoria de Opinião
Em resposta ao artigo publicado no passado dia 22 de junho de 2025, intitulado “Pagámos às centrais a carvão para fecharem. Chegou a hora dos matadouros?”, da autoria de Stephanie Walton, vimos exercer nosso direito de resposta em nome do setor da carne, rebatendo a forma empírica, incorreta e mesmo ofensiva como o tema foi tratado.
A autora do artigo sugere que a indústria da carne é uma das principais responsáveis por problemas ambientais e sociais, chegando até a questionar a necessidade de encerramento dos matadouros. Com base em comparações imprecisas e com uma visão unidimensional da realidade, Walton põe em causa o papel essencial desta atividade na economia e na sociedade, sem atentar à complexidade do setor, que é, ao contrário do que se sugere, um aliado fundamental da economia rural e da preservação de várias atividades do ecossistema.
Em primeiro lugar, é importante frisar que a indústria da carne tem um papel preponderante na fixação da população no interior do país, gerando emprego e combatendo a pobreza nas zonas rurais, o que é corroborado por estudos da FAO (sem data) e do Nutrimento (2018). Ao contrário do que o artigo sugere, a criação de animais, especialmente em sistemas extensivos, como a pastorícia, promove o equilíbrio com os ecossistemas, preserva a paisagem e contribui para a resiliência das populações contra desastres climáticos, sendo uma peça chave na segurança alimentar global.
Embora a questão ambiental seja indiscutivelmente relevante, a visão apresentada no artigo carece de sustentação técnica/cientifica. De facto, os ruminantes produzem metano, mas é fundamental esclarecer que, conforme apontado por Juan Pascual no livro “Razões para ser OMNIVORO. Pela tua saúde e a do planeta” (2024), a produção animal representa apenas 14,5% das emissões totais de gases de efeito de estufa (GEE) de origem antropogénica, sendo uma contribuição menor comparada a outras fontes industriais, que se sabe são a produção de energia e os transportes. Contudo, não continuará a autora a deslocar-se de avião, esquecendo-se do contributo destas viagens para o ambiente?
Para além disso, o metano gerado pelos ruminantes, após cerca de 10 anos, se transforma em dióxido de carbono (CO₂), completando um ciclo natural que beneficia o crescimento de plantas e a absorção de carbono da atmosfera, considerando-se um ciclo do carbono quase neutro. Teremos outras atividades assim?
Sobre o uso da terra para a produção de alimentos de origem animal, é importante esclarecer que um estudo da FAO (2018) revelou que, dos 2,5 mil milhões de hectares necessários para a alimentação animal, 77% são pastagens, muitas das quais não poderiam ser convertidas em terras agrícolas. Segundo Pascual (2024), as terras marginais, que representam dois terços da superfície agrícola global, são apropriadas para a criação de animais, pois não servem para cultivo, sendo o uso sustentável dessas terras uma das melhores soluções para garantir a segurança alimentar mundial.
Por fim, é necessário fazer um esclarecimento sobre os investimentos das empresas do setor da carne, que a autora critica como sendo impeditivos para uma dieta saudável. A verdade é que os investimentos realizados visam a modernização da indústria e a melhoria contínua dos padrões de qualidade, segurança dos alimentos e mesmo segurança alimentar, bem como a sustentabilidade ambiental. Estes investimentos não só beneficiam o consumidor, mas também asseguram que a indústria da carne se adapte às exigências modernas em termos de saúde e sustentabilidade.
Diante de todos os pontos apresentados, reiteramos o nosso compromisso com a transparência, a inovação e a responsabilidade ambiental, e solicitamos que esta resposta seja publicada na íntegra, com o mesmo destaque e nas mesmas condições do artigo original, conforme assegura a legislação sobre direito de resposta.
Referências bibliográficas:
· FAO. (sem data). Animal Production. AnimalProduction. Obtido 21 de janeiro de 2025, de https://www.fao.org/animal-production/en
· Juan Pascual. (2024). Razões para ser Ominívoro: Pela tua saúde e a do planeta (Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes). Servet.
· Nutrimento. (2018, fevereiro 19). Cabrito, um valor nutricional a descobrir. https://nutrimento.pt/noticias/cabrito-uma-carne-redescobrir/
· Walton, S. (2025, junho 22). Pagámos às centrais a carvão para fecharem. Chegou a hora de fazer o mesmo aos matadouros? PÚBLICO. https://www.publico.pt/2025/06/22/azul/analise/pagamos-centrais-carvao-fecharem-chegou-hora-matadouros-2137010
Fonte: APIC