Descendente de uma família de apicultores, Soraia Santos escolheu as abelhas e o mel como tema de uma investigação na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) que destacou as capacidades antioxidante e antienvelhecimento deste produto alimentar.
A propósito do Dia Mundial da Abelha, que se assinala no sábado, a investigadora, de 24 anos e que terminou o mestrado em Engenharia Alimentar em Vila Real, lembrou a “herança de família” que a levou ao Laboratório de Fitoquímicos da UTAD, onde desenvolveu o estudo “Influência da origem geográfica, na qualidade, composição fitoquímica e atividade biológica do mel”.
“Venho de uma família de apicultores, já é a terceira geração, lido com isto desde muito pequenina, tinha colmeias na minha garagem. Lembro-me da minha mãe estacionar o carro e ter abelhas à minha volta e ter o chão a colar com mel, é uma coisa que me acompanha já de há muito tempo”, contou à agência Lusa.
A investigadora do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da UTAD recordou as idas ao campo, às colmeias, e disse que continua a ajudar na participação de feiras ou na empresa, onde procuram implementar novas ideias, como o recente mel cremoso com canela, ideal para barrar.
O grupo Apisantos é uma empresa familiar que tem sede na Trofa (Porto) e que se dedica, desde 1978, à elaboração, fabrico e venda de materiais e utensílios para a apicultura, bem como à exploração apícola, tendo entre 600 a 700 colmeias.
À paixão pelas abelhas, Soraia Santos juntou outra paixão, a da investigação.
A sua dissertação de mestrado, que foi avaliada em 20 valores, teve como objetivo principal analisar méis portugueses de diversas fontes botânicas e origens geográficas através da determinação da composição fenólica e atividades biológicas, assim como parâmetros de qualidade.
“Corroborando, desta forma, as propriedades nutracêuticas deste produto alimentar, tentando dar um valor acrescentado a este alimento, produzido em grande escala a nível nacional, e verificar a influência destes dois parâmetros nas análises efetuadas”, acrescentou.
A investigadora concluiu que o mel “tem uma capacidade inibitória de enzima elastase”, que descreveu como uma “enzima muito importante ao nível da elasticidade da pele”.
“Uma das proteínas que fazem parte da composição da nossa pele é a elastina e, ao longo do tempo, o nosso organismo cria uma enzima que vai ‘cortar’, de certa forma, a nossa proteína, sendo um dos principais responsáveis para a criação de rugas. Através do meu trabalho foi possível perceber que realmente o mel tem percentagens muito elevadas de inibição dessa enzima, ou seja, vai prolongar o tempo que a nossa elastina não é degradada”, explicou.
Apontou ainda a influência da fonte botânica e destacou que o “mel de silva foi o que apresentou maior percentagem inibitória desta enzima”.
A propósito, Soraia Santos disse que quando contou ao pai que tinha encontrado “uma atividade inibitória desta enzima” ele comentou que, ao extrair o mel e este salpicava para a sua cara ficava com a “pele mais esticadinha”.
“A parte académica é extremamente importante, mas às vezes o senso comum e o trabalho diário dá outros conhecimentos, são duas coisas que se podem perfeitamente complementar”, defendeu.
A investigação foi realizada no Laboratório de Fitoquímicos, liderado pela professora Ana Barros, orientada pela mesma e coorientada por Irene Gouvinhas, e contou com a colaboração com duas empresas, ApiSantos e ApisMaia, utilizando mais de 35 amostras de méis nacionais.
Uma das amostras foi do mel de incenso, um produto DOP (Denominação e Origem Protegida) dos Açores.
“Foi a primeira vez que foi caracterizado este tipo de mel, desta região, e apresentou ótimos resultados também para a atividade antielastase, para a atividade antioxidante. O nosso laboratório foi pioneiro neste estudo”, apontou.
O Dia Mundial da Abelha foi designado pela Assembleia Geral da ONU em 2017 para incentivar a educação e ações públicas para maior consciência sobre estes polinizadores.
E, segundo Soraia Santos, o cenário é preocupante: a produção de mel tem vindo a decrescer significativamente, as abelhas não estão a comer e os apicultores estão a investir na alimentação artificial para elas não morreram.
O que se deve a vários fatores como, por exemplo, as alterações climáticas, as condições meteorológicas ou a vespa asiática.
Por fim, a investigadora disse que gostaria de continuar a trabalhar nesta área para ajudar a “minimizar problemas” e “tentar ajudar os apicultores”.