Em janeiro de 2020, a União Europeia aprovou a Estratégia para a Biodiversidade 2030, que define como meta aumentar áreas protegidas, recuperar ecossistemas degradados e reverter a perda de biodiversidade. A IPBES (Intergovernmental Platform on Biodiversity and Ecosystem Services) identificou as espécies exóticas invasoras (EEI) como a quinta causa de perda de biodiversidade a nível mundial.
Em Portugal, existem mais de 200 espécies de plantas exóticas invasoras, onde se incluem todas as espécies do género acácia. As ações de controlo e de erradicação das acácias são muito onerosas, quer pela sua elevada capacidade de reinvasão, quer pela extensa área invadida (cerca de 20 mil hectares), o que as torna impraticáveis, particularmente para pequenos proprietários.
O projeto Acacia4FirePrev – Explorar a biomassa de acácias: uma forma de reduzir o risco de incêndio, financiado pela FCT, procurou dar resposta a estas questões, apostando em duas linhas de ação: estudar formas de valorização dos resíduos de biomassa das acácias de forma a compensar os custos associados à gestão florestal; promover atividades de ciência cidadã de modo a educar, alertar e apelar à participação da sociedade civil para o problema das EEI e o seu impacto nos ecossistemas.
Nos 3 anos em que durou o projeto, o Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves”(CEABN) do Instituto Superior de Agronomia (ISA) desenvolveu diversas atividades de educação ambiental sobre invasoras com a comunidade e, em particular, com a população escolar. No ISA, foi iniciado o restauro ecológico de uma parcela da Tapada da Ajuda, com controle manual de acácias (arranque e descasque) e plantação de espécies autóctones. Para os mais novos, foi elaborado um peddy-paper de “Caça às Invasoras”, onde, em cada posto, as pistas encaminhavam para uma nova espécie nativa, exótica ou invasora, permitindo a exploração destes três conceitos. Em Silvares, no distrito de Castelo Branco, foi estabelecido um programa de apoio à ação prática no controlo das acácias em conjunto com a comunidade local, a Junta de Freguesia e a escola EB de Silvares, onde alunos e professores participaram na monitorização de uma área intervencionada, trabalhando diretamente com os investigadores do projeto Acacia4FirePrev na recolha de dados e na decisão dos tratamentos a efetuar ao longo dos últimos 3 anos.
Da interação com as escolas e a comunidade, e com o objetivo de dar ferramentas e autonomia aos professores e educadores para a realização de atividades no âmbito das EEI, surgiu o manual de atividades de educação ambiental sobre a temática das acácias. Já em fase final de elaboração, a equipa do CEABN testou duas das atividades propostas no II Rural Camp em Paredes de Coura, que se realizou entre 15 e 17 de fevereiro de 2024. A primeira atividade consistiu na identificação das diferentes espécies de acácias que existem em Portugal e a segunda num parlamento, onde os participantes do Rural Camp foram divididos em 4 grupos parlamentares com diferentes propostas de lei para a gestão das acácias, que diferiam na forma de atuar sobre as acácias (controlar, erradicar ou aceitar e permitir o aparecimentos de novos ecossistemas) e na valorização, ou não, das acácias, quer para a produção de bens, quer para fins culturais, relembrando a Festa da Mimosa que aconteceu até 1989 em Viana do Castelo. Depois do debate, foi pedido aos participantes que “esquecessem” o grupo parlamentar a que pertenciam e votassem segundo as suas convicções.
A educação ambiental e a disponibilização de manuais de apoio a atividades são ferramentas essenciais na luta contra as EEI. Ao capacitar as pessoas com conhecimento e recursos, essas iniciativas não apenas promovem a consciencialização, mas também catalisam a ação coletiva necessária para proteger e restaurar os ecossistemas afetados.
Fonte: CEABN-ISA