A direção das Florestas são-tomense acusou hoje um deputado do MLSTP/PSD, oposição, de encabeçar uma rede de abate ilegal de árvores e obstruir com arma branca a apreensão de materiais, mas o deputado rejeitou as acusações.
Segundo o diretor das Florestas e Biodiversidade, o deputado Elákio Afonso da Mata transportou, na sua viatura, cerca de cinco homens, portadores de arma branca, que perseguiram e obstruiram a via durante uma apreensão realizada por técnicos florestais numa comunidade do distrito de Caué, sul de São Tomé, onde, nos últimos tempos, tem havido “um aumento de ilegalidade de abate das árvores”.
“Logo que a viatura bloqueou a estrada, os indivíduos desceram com arma branca/machim e tentaram agredir a equipa que descia após a sua atividade de fiscalização, mas, felizmente, na viatura que eles bloquearam não estavam os guardas florestais, porque nós já prevíamos esse tipo de situação e conseguimos despistá-los”, narrou Adilson da Mata.
Segundo o diretor das florestas, os materiais apreendidos foram produzidos a partir de uma espécie de madeira proibida e estavam armazenados na mata. Após serem descobertos, foram encaminhados para o comando policial do distrito de Caué, adiantou.
“Num momento em que o mundo vive ameaças das alterações climáticas e que nós mesmo em São Tomé já temos sofrido essas alterações, nós nunca esperávamos que um deputado estaria a encabeçar uma rede de tráfico de abate ilegal de madeiras na zona sul”, afirmou Adilson da Mata.
O Diretor das Florestas disse que a instituição vai apresentar uma queixa-crime contra o deputado e um funcionário da Câmara de Cantagalo que fazia parte do grupo e, alegadamente, era “a pessoa que estava mais agressiva” e queria “assassinar o ajudante da carinha”, que ajudou na apreensão dos materiais.
Além da queixa-crime, afirmou que irá informar o Governo, através do ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Abel Bom Jesus, e a Assembleia Nacional, sobre o alegado envolvimento do deputado, que acusou de ter organizado a sua “quadrilha para assassinar os funcionários” da Direção das Florestas.
O diretor das Florestas disse acreditar que há dirigentes são-tomenses que financiam grupos de abate ilegal de árvores, pelo que, apesar da parceria que esta instituição tem com a Polícia e as Forças Armadas, o combate à desflorestação “está longe do controlo do Estado”.
O deputado Elákio Afonso da Mata rejeitou as acusações e instou o diretor das Florestas a não fazer acusações apenas na base de informações que recebeu no gabinete.
“A Ribeira Afonso é uma comunidade que nos anos anteriores já tinha essa prática em que apreenderam material, houve disparos, houve pancadaria e eu, enquanto representante do povo, não gostaria que esse prática [se] repetisse. [Por isso], peguei no meu carro, dirigi [até] Caué, assisti a equipa das florestas e os agentes a guardarem os materiais no posto [da Polícia] de Caué e, ao virem para a cidade capital,[parei] na estrada para chamar a atenção [e] aconselhar”, contou o deputado.
Elákio Afonso da Mata disse que não viu “ninguém com a arma branca” nem a agredir ninguém e que fez a chamada de atenção porque a viatura envolvida na operação era privada, quando no seu entender deveria ser do Estado.
Por outro lado, acusou a Direção das Florestas de tratamento desigual na apreensão de materiais ilegais no sul do país.
“O que acontece é o nível da corrupção, uns a defenderem os seus amigos e outros a fazerem com que a população fica constantemente sem a proteção. E esta prática eu repudio”, referiu Afonso da Mata, que acusou a equipa das florestas de não ter apreendido no mesmo dia os materiais de um outro empresário, o que levou a própria população a fazer a apreensão.
Em março, um grupo de técnicos da Direção das Florestas e Biodiversidade são-tomense acusou o ministro da Defesa e Administração Interna, Jorge Amado, de abuso do poder, por alegadamente ter ordenado o abate ilegal de árvores, violando a proibição imposta na altura pelo Governo.
Questionado sobre os resultados da denúncia, o diretor das florestas disse hoje que esta direção fez tudo o que deveria contra Jorge Amado, mas a decisão, salientou, cabe aos superiores.
“Fizemos o nosso trabalho, fizemos o relatório, fizemos a taxa da multa que o senhor Jorge Amado procedeu com a sua infração e encaminhamos para o nosso superior [ministro da Agricultura] e ainda estamos à espera da resposta”, disse Adilson da Mata, assegurando que, até ao momento, a multa não foi paga.