Seguranças, arame farpado, laboratórios e milhares de plantas em estufas. Primeira fábrica de canábis medicinal do país fica em Cantanhede, mas ainda espera pela licença para produzir medicamentos.
O arame farpado em redor de todo o perímetro e a forte presença de seguranças ao longo de toda a vedação fazem lembrar uma base militar ou uma prisão de alta segurança. Mas a enorme estufa agrícola que ocupa o centro deste complexo com 24 mil metros quadrados em Cantanhede esclarece que o que ali se passa nada tem a ver com forças militares ou prisões — embora também exija um elevado nível de segurança. Trata-se da primeira fábrica em Portugal de produção de canábis para uso medicinal, inaugurada nesta quarta-feira pelo presidente executivo da empresa canadiana Tilray, que quer fazer de Portugal o centro de operações da firma para a União Europeia.
Esta é a maior plantação de canábis em Portugal e começou a ser cultivada no final de 2017, ano em que o Infarmed atribuiu à Tilray a licença para cultivar, importar e exportar canábis medicinal a granel. Agora, após duas colheitas bem-sucedidas, a empresa abriu a fábrica a jornalistas e a dezenas de convidados — entre os quais o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias — para a inauguração oficial das instalações, que incluem não apenas os locais de cultivo (interior, exterior e estufas), mas também os laboratórios de investigação e os locais de processamento, embalamento e distribuição dos produtos.
O objetivo é que a fábrica controle o processo de produção “do início ao fim” para que tudo seja feito o mais rapidamente possível, explica o responsável pelas operações em Portugal, António Vieira, enquanto mostra aos visitantes o pouco que é possível ver da fábrica. Isto porque, para já, a fábrica ainda só opera nas primeiras fases do processo: a plantação e a colheita das plantas. A Tilray espera ainda a chegada da licença de fabrico e do certificado de Boas Práticas de Fabrico, exigido pela União Europeia para a produção de medicamentos, para poder começar a extrair os componentes das plantas e a produzir os produtos finais.
O presidente executivo da Tilray, Brendan Kennedy, disse esperar ter estas licenças em breve e poder começar, a partir do próximo verão, a exportar para toda a União Europeia produtos de canábis medicinal e medicamentos derivados de canabinoides. Com 117 funcionários já a trabalhar na fábrica, a empresa prevê mesmo duplicar o número até ao final do ano, criando mais de 200 postos de trabalho qualificado na região centro.