O défice comercial agrícola de África piorou em 2022, ultrapassando os 36 mil milhões de euros, o nível de 2015, e o número de pessoas a sofrer fome ou desnutrição subiu para 256 milhões, segundo um relatório hoje divulgado.
A incapacidade de África de produzir o suficiente para se alimentar é um dos piores indicadores do Relatório Anual sobre a Eficácia do Desenvolvimento que o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) apresentou hoje.
Em 2021, o défice comercial agrícola do continente tinha sido de 36,3 mil milhões de dólares (cerca de 33,8 mil milhões de euros) mas agravou-se no ano passado, atingindo os 38,7 mil milhões de dólares (cerca de 36,1 mil milhões de euros), voltando ao nível de 2015.
África tem dificuldades em desenvolver a sua produção agrícola e fazê-la acompanhar o crescimento populacional, tornando o continente um importador líquido de alimentos e expondo-o à insegurança alimentar, situação agravada em 2022 pela guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia, e já antes pelos efeitos da pandemia de covid-19.
Assim, o número de pessoas com fome ou a sofrer de desnutrição aumentou de 240 milhões em 2015 para 256 milhões em 2022, segundo os dados consolidados relativos ao ano passado.
O Relatório Anual sobre a Eficácia do Desenvolvimento avalia as contribuições do BAD para cinco objetivos de desenvolvimento, sendo alimentar África um deles, e os restantes o acesso e produção de energia, industrializar África, a integração regional do continente e a melhoria da qualidade de vida dos africanos.
No sumário das ações da instituição para estes objetivos, Akinwumi Adesina, presidente do Grupo do Banco Africano de Desenvolvimento destacou “progressos impressionantes em matéria de acesso a energia”, tendo a cobertura populacional aumentado, em sete anos, de 42% para 56%.
No entanto, 600 milhões de africanos ainda não têm acesso a eletricidade, e por isso esta vai continuar a ser uma área prioritária para os apoios do Banco.
Em 2022, os investimentos do BAD nas cinco áreas, ou objetivos de desenvolvimento, atingiram os 8,2 mil milhões de dólares (cerca de 7,65 mil milhões de euros) aproximando-se dos níveis pré-pandemia, “apesar de um ambiente operacional difícil”, lê-se no relatório.
Na estratégia para a próxima década, o BAD anunciou que orientará os seus esforços no sentido de promover e acelerar o crescimento e o desenvolvimento inclusivo de África e a resiliência às alterações climáticas.
O relatório foi apresentado durante as reuniões anuais do Grupo BAD, o evento mais importante da instituição que junta tem 54 Estados-membros africanos e 27 não africanos, que decorrem até sexta-feira, em Sharm el Sheikh, no Egito.