A margem de lucro do negócio de retalho alimentar da Sonae recuou ligeiramente para 2,6% em 2023, face a 2,7% no ano anterior, avançou hoje o administrador financeiro do grupo, João Dolores.
“Tivemos uma queda de margem líquida no retalho alimentar de 3% em 2021 para 2,7% em 2022 e essa margem caiu para 2,6% [em 2023]. Portanto, temos ainda uma contração ligeira da margem líquida do retalho alimentar entre 2022 e 2023”, afirmou o CFO [do inglês ‘chief financial officer’] da Sonae durante a apresentação das contas de 2023 do grupo, que decorreu esta manhã na Maia, distrito do Porto.
Segundo João Dolores, “o aumento de preços no mercado em Portugal foi menos de metade” do aumento de preços que chegou à distribuição alimentar “via preços do produtor”: “Portanto, foi feito um esforço muito grande de contenção de preços da nossa parte, em particular, e tanto é que tivemos uma queda de rentabilidade muito clara na nossa atividade de retalho alimentar ao longo do ano 2023”, enfatizou.
“É um mercado muito competitivo, em que tentamos sempre oferecer um dos melhores preços aos consumidores, se não fosse assim não conseguiríamos ter a posição de mercado que temos”, acrescentou.
Relativamente a 2024, a presidente executiva (CEO) da Sonae, Cláudia Azevedo, disse que a sua “expectativa é que a inflação alimentar baixe”.
“Estava a valores extraordinários, muito ligados, também, ao preço da energia, e a expectativa é que [o preço da energia] baixe e isso é imediatamente refletido nos preços nas prateleiras”, disse.
A líder da Sonae reiterou que o aumento de preços “não favorece” a empresa, já que não representa “um acréscimo do lucro”: “Tem a ver com muitas coisas, tem a ver com a guerra, com a seca, nalguns alimentos tem a ver com doenças que houve e portanto, não é direto”, sustentou.
Cláudia Azevedo destacou também que “o setor de retalho alimentar em Portugal é altamente competitivo”, pelo que “não há margem para não ter uma proposta de valor muito, muito boa para os clientes”.
“ [Se] as coisas chegam mais caras, nós não podemos fazer muito mais. Tentamos fazer imensas poupanças, na parte da energia, com painéis fotovoltaicos, fazemos um esforço enorme aí, mas, na verdade, se as coisas chegam mais caras, e o custo da mão de obra aumentou muito, não podemos fazer muito mais”, enfatizou.
Relativamente aos protestos dos agricultores que se registaram a nível europeu, incluindo Portugal, contra a política agrícola, a CEO manifestou uma “preocupação natural” da Sonae com a situação: “Somos todos elos da mesma cadeia e temos uma relação muito saudável com os agricultores”, disse.
Recordando que, no ano passado, o setor da distribuição foi “um pouco atacado pelo Governo”, que lhe quis “por a culpa toda da inflação” e “criar algum conflito entre a grande distribuição e os agricultores”, Cláudia Azevedo salientou que “isso não aconteceu”.
“Estamos no mesmo barco, temos o mesmo objetivo. Gostamos cada vez mais de ter melhores produtores nacionais e investimos muito nisso, com o Clube de Produtores do Continente, portanto, é uma relação boa, saudável e muito orientada ao crescimento”, rematou.
Relativamente a eventuais problemas de abastecimento caso os protestos – que chegaram a bloquear fronteiras – venham a repetir-se, a CEO afirmou que essa, “para já, não é uma preocupação”.
O lucro da Sonae cresceu no ano passado para 357 milhões de euros, um aumento de 6,4% relativamente ao ano anterior, anunciou hoje a empresa.
No documento enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Sonae destaca o aumento do resultado líquido atribuível aos acionistas, sublinhando que os impactos do apoio às famílias, do aumento dos custos financeiros e dos impostos e do investimento na expansão e digitalização dos negócios foram “mais do que compensados” por “ganhos de eficiência e mais-valias realizadas com alienação de ativos”.