Sabem o que é um “contrastador”? Segundo o dicionário, é “aquele que contrasta, que confronta, que compara”. Mas, em Portugal, é também o nome de uma profissão rara, que engloba apenas algumas dezenas de elementos em todo o país que são agentes credenciados do “contraste leiteiro”. Uma vez por mês, estes técnicos visitam as agro-pecuárias aderentes para registar a produção de leite de cada vaca ou pequeno ruminante e colher uma amostra. Essa amostra vai ser analisada para verificar a qualidade do leite (teores de gordura e proteína) e o estado de saúde do animal. Poucos dias depois o agricultor recebe no telemóvel um alerta que pode consultar através da internet os resultados e relatórios.
Este serviço, que em Espanha e França se chama “controlo leiteiro”, permite ao agricultor escolher os animais mais produtivos e saudáveis, que vale a pena manter e dos quais deve criar a descendência. Com a partilha dos dados obtidos em todas todos os países, pode-se avaliar como está a evoluir o melhoramento da raça e como se comporta a descendência dos touros usados em inseminação artificial. Foi este trabalho de recolha e análise de dados, ao longo de décadas, que permitiu selecionar os animais mais produtivos, saudáveis e eficientes. Com a melhoria da eficiência hoje produz-se o mesmo leite com menos animais, menos consumo de água, energia, alimento e outros fatores de produção.
O contrastador vem uma vez por mês acompanhar uma ou duas ordenhas, regista a produção no tablet e colhe uma amostra de cada vaca. Para quem tem robô, traz o equipamento de recolha automática das amostras e tira no computador uma listagem da média de produção de cada vaca na última semana. Para as ordenhas convencionais, tem de se adaptar à hora normal de ordenha na vacaria: Há quem comece às 6h00 e outros só às 8h00. Muitas vezes o contrastador é também “agente de identificação”, fazendo o registo obrigatório dos vitelos recém-nascidos e colocando os brincos com o número oficial. E é uma visita agradável que traz companhia para uma atividade de rotina às vezes solitária como é a ordenha diária dos animais.
Nas várias associações e cooperativas e nos laboratórios, há depois uma equipa que faz a coordenação, as análises e o lançamento de dados. Um trabalho discreto, ao longo de todo o ano (o regulamento permite um mês de férias, sem contraste) para recolher, analisar e partilhar os dados que nos permitem comparar e melhorar a eficiência dos animais e das nossos efetivos leiteiros.
#carlosnevesagricultor
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