Durante a semana que teve início em 28 de maio, o território de Portugal continental foi afetado por condições meteorológicas adversas, caraterizadas pela ocorrência de trovoadas acompanhadas por aguaceiros fortes, por vezes de granizo e, frequentemente, por rajadas fortes de vento. A sua incidência foi diferenciada sobre o território e verificou-se em períodos distintos, consoante as áreas e instantes em que a coexistência dos diversos ingredientes atmosféricos indispensáveis para o efeito, se foi materializando.
A convecção atmosférica desempenhou um papel central nestas condições. Trata-se de um processo responsável pela subida espontânea do ar por efeito de impulsão. O aquecimento radiativo junto ao solo, ao aumentar localmente a instabilidade disponível, e os efeitos da orografia, ao facilitarem a libertação dessa instabilidade desempenharam, também, um papel importante na distribuição da precipitação. No seu conjunto, contribuem para determinar as áreas onde, a cada momento, a instabilidade se liberta e, portanto, os locais onde a subida do ar húmido, organizada segundo fortes correntes ascendentes, se estabelece.
Quando predomina um regime de condições favoráveis à ocorrência de trovoada, é possível que numa área, como a de um distrito, se verifique uma grande variabilidade quanto aos locais afetados por condições adversas: determinados locais podem ser fortemente afetados por chuva forte, granizo e/ou vento, mas outros locais próximos poderão não sentir efeitos significativos.
No dia 28, próximo da Mêda (distrito da Guarda) (figura 1), foram observados cerca de 50 mm (valor com alguma sobrestimação por efeito da queda de granizo), mas numa região situada menos de 10 km para nordeste, foram observados apenas 2 mm durante as 24 horas do dia. No dia 29, na área da Serra Amarela (distrito de V. do Castelo) (figura 2), o radar observou valores da ordem de 50-70 mm, mas é visível que, por exemplo, numa área situada a nordeste de Braga, relativamente próxima, os valores acumulados foram apenas da ordem de 3 mm. O mesmo se poderá dizer de outras áreas situadas mais a sul, em que existem valores muito discrepantes em áreas vizinhas (figura 2). No dia 30, nas vizinhanças de Boticas (distrito de Vila Real), foi observado pelo radar um valor de cerca de 45 mm (figura 3) mas poucos quilómetros a sudoeste desta área, pouco choveu
Figura 1 – Precipitação acumulada (mm) durante as 24 h do dia 28 de maio de 2023, radar de Arouca/Pico do Gralheiro. Assinaladas duas áreas, próximas, reveladoras da grande variabilidade espacial na precipitação observada.
Figura 2 – Precipitação acumulada (mm) durante as 24 h do dia 29 de maio de 2023, radar de Arouca/Pico do Gralheiro. Assinaladas diversas áreas, próximas, reveladoras da grande variabilidade espacial na precipitação observada.
Figura 3 – Precipitação acumulada (mm) durante as 24 h do dia 30 de maio de 2023, radar de Arouca/Pico do Gralheiro. Assinaladas duas áreas, próximas, reveladoras da grande variabilidade espacial na precipitação observada.
O artigo foi publicado originalmente em IPMA.
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