Na semana da Mobilização Global pelo Clima, que culminará na próxima sexta-feira com uma greve a nível mundial, o coletivo de ativistas Climáximo entrou na sede da empresa de celulose, que acusa de “promover falsas soluções climáticas” e de “contribuir para a degradação dos territórios em que intervém, em Portugal e em Moçambique”
Depois de ter participado na organização de uma ação contra a exploração de gás na Bajouca, em Leiria, que consistiu na ocupação do terreno de uma empresa australiana que pretende fazer um furo de prospeção, o Climáximo, coletivo de ativistas que luta pela justiça climática, realizou esta segunda-feira outra ação, desta vez na sede da The Navigator Company em Lisboa. Qual o objetivo? “Denunciar as repetidas campanhas enganosas promovida pela empresa de celulose” que, segundo se lê no comunicado enviado às redações pelo coletivo, “utiliza o conhecido método de ‘greenwashing para vender o seu negócio como benéfico para o ambiente, enquanto contribui para a degradação dos territórios em que intervém, em Portugal e em Moçambique, favorecendo a desertificação e os incêndios florestais”.
A ação acontece no contexto da Mobilização Global pelo Clima, uma iniciativa a nível que pretende alertar para a crise climática. Teve início na passada sexta-feira, 20 de setembro, e prolonga-se até à próxima, 27, estando prevista para esse dia uma greve mundial pelo clima. Em Portugal, aderiram à iniciativa mais de 40 movimentos e associações, que preparam dezenas de atividades e eventos, desde exibição de filmes, vigílias, debates e workshops.
Esta segunda-feira, será exibido, na associação Sirigaita, em Lisboa, o documentário “Burkinabè Bounty”, da realizadora Iara Lee, sobre a luta pela soberania alimentar no Burkina Faso, no continente africano, no âmbito do festival CineClima, “o primeiro ciclo de cinema em Portugal exclusivamente sobre clima”, com sessões seguidas de debate e de entrada livre, de acordo com a organização. À mesma hora (19h00), mas noutro local (Casa do Impacto), será exibido um outro filme, “Normal is Over”, a que se seguirá uma conversa com Nuno Brito Jorge (da Go Parity, primeira plataforma portuguesa de financiamento coletivo por empréstimo) e Pedro Martins Barata, da associação ambientalista Zero.
A empresa Navigator Company “utiliza práticas neocolonialistas em países como Moçambique”
Mas voltando à ação desta segunda-feira. Segundo o Climáximo, a iniciativa teve também como objetivo “denunciar a hipocrisia desta empresa”, a qual “adquire publicidade em toda a imprensa para se autopromover e criar na população a ideia errada de que as suas práticas podem constituir alguma espécie de solução para a crise climática”. A indústria da celulose e da bioenergia, refere-se, “aproveita-se de forma totalmente oportunista da crise climática para aumentar os seus lucros e os seus negócios, travando as verdadeiras soluções, quer na energia, quer na floresta”.
O coletivo de ativistas denuncia também a “expansão descontrolada das monoculturas de eucalipto por todo o país, uma espécie exótica altamente combustível que contribuiu para o abandono do meio rural e os catastróficos incêndios florestais” e nota que, “apesar de se afirmarem ‘neutras em carbono’, as celuloses são agentes activos e contribuintes líquidos – direta e indiretamente – para as emissões nacionais”.
No caso concreto da Navigator Company, a empresa fundada em 2001 é ainda acusada de utilizar “práticas neocolonialistas em países como Moçambique”, onde alegadamente “promove o roubo de terras às comunidades camponesas e a substituição direta de florestas nativas por plantações monoculturais de eucaliptos”, que “contribuem para a degradação de solos, de águas e de paisagens”. O verdadeiro combate às alterações climáticas, sublinha o Climáximo, terá de ser feito através de “florestas a sério, com biodiversidade e resiliência aos brutais choques do clima em mutação, que possam ficar décadas ou até séculos na paisagem, construindo e constituindo ecossistemas que preservam espécies de todo o tipo, água e solos”.
Em julho deste ano, o Climáximo ajudou a organizar uma “ação de desobediência civil” (assim foi descrita) no terreno que a empresa Australis Oil & Gas comprou para efetuar um furo de prospeção de gás natural, na freguesia da Bajouca, no concelho de Leiria. A ação foi o culminar da iniciativa “Camp-in-Gás”, acampamento de ação contra gás fóssil e pela justiça climática, montado na mesma freguesia, durante o qual foram organizadas oficinas, workshops, sessões de yoga e de meditação, formações e debates sobre as alterações climáticas.