No universo da Região de Lisboa cabem nove denominações de origem, coisa que se traduz numa diversidade de perfis de vinhos que já merecia mais atenção por parte dos consumidores. Mas, entre tanta riqueza, vale a pena destacar a região de Colares porque, em muitos aspectos, poderá renascer das cinzas – à semelhança do que aconteceu com a vinha no Pico.
Colares tem história e notoriedade. Tem um clima e um sistema vitícola que desafiam a racionalidade agrícola. Tem castas únicas que outrora se espalharam por 1000 hectares (hoje terá menos de 30). Tem vinhos tão difíceis novos quanto sublimes com tempo de garrafa. E vive, paredes meias, com Sintra – Património da Humanidade. Agora, o que tem isto a ver com a região do Pico? Quase tudo.
Na ilha, cujas vinhas são Património da Humanidade, também há história, irracionalidade, teimosia humana, engenharia primitiva e carácter vitícola vincado. Mais importante, para os vinhos de Colares ou do Pico, há consumidores que pagam 25, 40, 100 ou 160 euros por uma garrafa. Não por uma questão de exibição, mas por reconhecimento do esforço e da aventura que é fazer vinhos em Colares ou no Pico. E é por isso que aqui arrancamos com dois bons exemplos.
Ramillo
O Ramisco é uma aventura que vale a pena
Pedro Ramillo é designer e o irmão Nuno é engenheiro civil. Em 2013, pegaram nuns pedaços de terra herdados dos pais que rondavam 0,5 hectares. Oito anos depois, estão perto dos 20 hectares. Dois de chão de areia, em Janas, e os restantes em chão rijo, na encosta do rio Lisandro.
Plantar uma vinha em chão de areia cai no cúmulo da irracionalidade, em particular no caso da casta Ramisco. Primeiro, é preciso encontrar material vegetativo (coisa rara). Segundo, fazer covas na areia até encontrar terra (isto pode variar entre 0,5 metros e 1, 5 metros). Terceiro, esperar que a planta vingue. Quarto, tapar as covas iniciais. Quinto, esperar que a vinha comece a produzir alguma coisa de jeito. E, sexto, que o tinto se deixe beber. De um hectare de Ramisco, na vinha do Camejo, produziram-se, entre 2016 e 2018, 300 quilos de uva por ano. Em 2019, deu-se um salto para 800 quilos e, em 2020, a enormidade de 2200 quilos.
Donde, a pergunta que se impõe: vale a pena o risco? A resposta de Nuno Ramillo: “Sim, vale, quando há capacidade de posicionar estes vinhos nos canais correctos.”
É evidente que a rentabilidade deste projecto familiar resulta de outros vinhos produzidos com castas regionais e não regionais, mas não se pode dizer que uma garrafa de Ramisco da marca Ramillo, de 2016, vendida a 160 euros, seja um negócio desinteressante. E muito menos ainda quando parte da próxima colheita ainda nem foi engarrafada, mas já está paga por um importador asiático.
Os vinhos de Malvasia, de Vital ou de Castelão merecem uma prova com tempo, mas, de facto, o Ramisco 2016 é um desafio permanente sempre que se roda o copo. Notas de casca de frutos vermelhos, de bosque, de eucalipto, de caruma, de cedro e por aí fora. Na boca, a primeira sensação é