Há empresas portuguesas que já receberam pagamentos das exportações para a Rússia após a exclusão deste país do sistema SWIFT. Os importadores recorreram a bancos não bloqueados ou a instituições estrangeiras presentes naquele mercado.
Uma década foi o tempo que Gonçalo Neves, CEO da Corkart, empresa portuguesa especializada no fabrico de pavimentos e revestimentos de paredes em cortiça, investiu para entrar no mercado russo. “Montámos uma empresa para distribuição da nossa marca, a Corkart Russia. Temos quatro funcionários e um armazém numa plataforma de logística na zona de Sampetersburgo”, explica ao NOVO. Os esforços estavam agora a dar frutos. Tem uma carteira de clientes de 200 lojas.
O responsável revela que, na semana em que rebentou o confronto militar, as vendas dispararam, talvez porque os russos temeram a subida de preços, daí anteciparem as compras. “Não sei o que vai acontecer. Temos algum stock no nosso armazém, para dois ou três meses, e, de momento, todos os navios estão suspensos. Nem existe via marítima. Pelo que sei, ficará assim até final de Março.” Quanto a receber e a fazer pagamentos, o responsável da Corkart diz que o seu banco é austríaco. “Um dos empregados fez esta semana uma transferência de lá para cá e já recebemos o dinheiro.”
A qualidade e o design dos pavimentos e revestimentos da empresa de Vendas Novas conquistaram os gabinetes de arquitectura e as lojas da especialidade no outro extremo da Europa. O gestor conta que já havia ultrapassado o conflito da Rússia com a Crimeia, que também teve impactos no negócio. “Agora que tudo parecia estar estabilizado, vem esta guerra com a Ucrânia”, lamenta. O investimento feito pela Corkart na Rússia “foi o empenho durante mais de dez anos no mercado, stock que está agora no armazém, assim como todos os investimentos de marketing para equipar mais de 200 lojas com expositores”, contabiliza. “Quanto à Corkart Russia, teremos de aguardar para ver o que vai acontecer e se podemos regressar à normalidade. Não existindo condições, teremos de ponderar suspender a actividade da empresa.”
A Corkart é uma empresa quase 100% exportadora, sendo a sua maior fatia de mercado a Europa, embora também esteja presente nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Ásia. A aposta na diversificação dos clientes funciona como um escudo para compensar “apostas” que correm menos bem. Desde 2021 que começou também a vender mais em Portugal, com a Corkart Distribution, e criou uma unidade industrial onde produzirá pavimentos 100% à prova de água.
A boa notícia é que o sector da cortiça não é dos mais penalizados, apesar de estar em terceiro lugar, segundo dados da AICEP, no que toca às exportações portuguesas para a Rússia. Segundo João Rui Ferreira, responsável da Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR), em declarações à Lusa, nos últimos dois anos, as exportações portuguesas de cortiça para aquele mercado estavam já a cair 30%. No ano passado, o sector corticeiro vendeu-lhe 26 milhões de euros, representando uma quota de mercado de 2,3%.
A rota do vinho
Já o vinho tem uma posição mais sensível. Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal – Associação Interprofissional do Vinho, revela que a Rússia é o 18.º mercado português. Em 2021, as exportações directas foram de cerca de 11 milhões de euros, embora, de forma indirecta, decerto tenha sido vendido mais vinho. A estimativa é que o valor ronde os 35 milhões de euros. O responsável da ViniPortugal diz ainda que tinha no plano de investimento 165 mil euros projectados para os mercados da Rússia e da Ucrânia. “A decisão não está tomada mas, previsivelmente, esta verba será canalizada para mercados alternativos, como o Canadá, Estados Unidos e Brasil.” Quanto ao paladar dos russos, Frederico Falcão revela que as regiões mais apreciadas, por ordem decrescente, são Porto, vinho verde, Alentejo, Madeira, Douro, península de Setúbal e Tejo.
A Rússia é um dos maiores mercados de exportação de vinho verde, e também da Viniverde e da Adega Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, o que rendeu a estas duas empresas mais de um milhão de euros em 2021. José Oliveira, administrador de ambas […]