As chuvas torrenciais que atingiram a África Oriental desde outubro, e mataram mais de 300 pessoas, foram “até duas vezes mais intensas” devido às alterações climáticas causadas pela atividade humana, segundo um estudo científico hoje publicado.
O mau tempo que atingiu a Etiópia, o Quénia e a Somália entre outubro e dezembro “foi um dos mais intensos jamais registados na região”, segundo a World Weather Attribution (WWA), uma rede mundial de cientistas que analisa em tempo real os fenómenos meteorológicos extremos.
Para os investigadores da WWA, “as alterações climáticas contribuíram para o acontecimento” e “enquanto o planeta continuar a aquecer, chuvas intensas como estas serão mais frequentes na África Oriental”.
O relatório da WWA chama a atenção para a “necessidade urgente de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e reduzir as emissões para zero”.
Os investigadores referem, no entanto, que ainda existem “incertezas” sobre a “contribuição exata” do aquecimento global.
O Corno de África é uma das regiões mais vulneráveis às alterações climáticas e os fenómenos meteorológicos extremos são cada vez mais frequentes e intensos.
De acordo com o estudo da WWA, a vulnerabilidade da população também desempenha um “papel importante”, pois “muitas comunidades já estavam a sofrer de uma seca de três anos causada pelas alterações climáticas, que resultou na morte de animais, na quebra de colheitas e na insegurança alimentar”.
As chuvas torrenciais deslocaram mais de dois milhões de pessoas na África Oriental, quase metade das quais só na Somália.
As chuvas mataram pelo menos 57 pessoas na Etiópia, mais de uma centena na Somália e pelo menos 165 no Quénia.
Pelo menos 23 pessoas morreram também de cólera numa região do leste da Etiópia afetada por fortes inundações.
Prevê-se que o fenómeno El Niño, geralmente associado ao aumento das temperaturas, a secas em algumas partes do mundo e a fortes chuvas noutras, se mantenha até abril.