O ano de 2020 culminou e 2021 presenteou-nos com um aumento de preços de cereais e oleaginosas como o trigo, milho, soja e colza. O índice de preços da FAO registou uma subida de preço dos cereais na ordem dos 26%, o nível mais alto nos últimos seis anos.
A pandemia ou pãodemia, como gostam de a poetizar, levou à acumulação de stock de commodities para evitar o risco de interrupção das cadeias de abastecimento globais. Ainda, os desequilíbrios na oferta e procura nos diferentes mercados, a oferta mais restrita e a procura mais elevada aumentaram os preços do trigo e do milho, a demanda chinesa, para reabastecimento de reservas, e as preocupações com a meteorologia tornaram-se aspetos igualmente relevantes neste aumento.
A incerteza dos tempos dá-nos uma certeza: estes valores continuarão a aumentar nos dois primeiros trimestres do ano corrente, o uso dos cereais prevê um novo recorde de cerca de 2.744 milhões de toneladas. Fundamentalmente pelo aumento de interesse nos biocombustíveis e pelo uso do trigo na produção animal, o consumo de carne é cada vez mais elevado.
A produção internacional de cereais, inversamente, não acompanha a previsibilidade de aumento, sendo que por muitos anos o índice de preços pouco se alterou e as explorações neste momento apresentam pouca capacidade para investimentos e algumas até mesmo abandono agrícola. Esta questão torna ainda mais manifesto o contínuo aumento de preço.
Por via de regra, o ano de 2020 impulsionou os preços das commodities agrícolas, que voltaram a valores que não víamos há muito, mas será que não fruiremos do reverso da medalha? Quando assistimos a estes aumentos em 1918 e em 2008, com a gripe espanhola e a grande crise financeira, respetivamente, despontaram grandes crises económicas. Estaremos a prever uma nova crise económica pós-pandemia ou não nos devemos deixar levar pela história?
Maria Carvalho
Engenheira agrónoma