A autarca de Longueira/Almograve, em Odemira (Beja), a freguesia do país com maior percentagem de crescimento populacional nos últimos 10 anos, atribuiu hoje esta subida ao número de imigrantes que trabalham na agricultura intensiva no concelho.
De acordo com os dados preliminares dos Censos 2021, divulgados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), constata-se que Longueira/Almograve foi a freguesia que, em Portugal, ganhou percentualmente mais habitantes desde 2011, com uma variação de +72,4%.
“Isto deve-se, essencialmente, à vinda de tantos [trabalhadores] migrantes para a agricultura intensiva”, não só “aqueles que residem na zona urbana”, como também “aqueles que residem nas quintas”, justificou à agência Lusa a autarca Glória Pacheco.
Segundo a autarca, que preside a uma das freguesias do concelho de Odemira (a outra foi São Teotónio) que foi alvo de uma cerca sanitária devido à elevada incidência de casos de covid-19, entre finais de abril e 11 de maio, se estes dados tivessem sido conhecidos há mais tempo, talvez essa medida adotada no âmbito da pandemia tivesse sido evitada.
“Há uns meses atrás, se calhar não tínhamos tido cerca sanitária”, afirmou.
Em 2011, segundo os dados do INE, residiam naquela freguesia do litoral do concelho de Odemira 1.356 pessoas e, em apenas 10 anos, este número aumentou e está agora nos 2.338 residentes (+72,4%).
“Há uns anos atrás, este número não era expectável, mas, com a vinda dos migrantes, tornou-se expectável. Todos sabíamos que tínhamos muita população e que não era contada. Basta olhar para os contentores do lixo para perceber que não estavam dimensionados para tanta gente”, observou a autarca.
Para Glória Pacheco, estes números dão razão à junta de freguesia que, em maio, se opôs à cerca sanitária decretada pelo Governo, considerando-a “penalizadora”.
“Vamos continuar a sofrer porque as empresas, sobretudo turísticas, estão a sofrer com a imagem que passou, mas esperemos que isso reverta e que a economia volte ao normal”, frisou, afirmando depositar “esperanças” na Estratégia Local de Habitação.
A freguesia deve ser “contemplada com mais investimentos”, defendeu também a autarca, que espera que “sejam criadas as condições para os que vieram de fora e para que os naturais” possam residir em Longueira/Almograve, “porque, neste momento, não se encontra uma casa”.
“A maioria das casas está alugada pela população migrante, famílias estruturadas que aqui residem o ano inteiro, que também merecem boas condições para habitar”, acrescentou.
De acordo com a análise da Lusa aos dados dos Censos 2021, Odemira é um dos sete concelhos do país onde existem mais homens do que mulheres, sendo mesmo aquele onde é maior a percentagem de homens residentes (55%), bem acima da média nacional (48%).
Das 13 freguesias do concelho, há nove com mais homens do que mulheres, sendo as de Longueira-Almograve, São Teotónio e Vila Nova de Milfontes aquelas que têm mais habitantes do sexo masculino.
Aliás, Odemira, o município do país com maior crescimento da população nos últimos 10 anos (+13,3%), foi também o único dos 47 concelhos alentejanos a ganhar habitantes face a 2011, com mais 3.457 pessoas, sendo a esmagadora maioria (3.155) homens, números que estarão relacionados com o acréscimo de migrantes para trabalhos agrícolas.
Em 2011, também segundo os dados preliminares dos Censos desse ano, residiam em Odemira 13.200 homens e 12.904 mulheres. Passada uma década, há 16.355 homens (mais 3.155), enquanto o número de mulheres neste município do litoral alentejano aumentou apenas 284, para 13.188.