[Fonte: Jornal de negócios]
Há dias, V. Ex.ª, na qualidade de PR, esteve discretamente sentado na plateia de uma sessão onde eu era orador. Aquilo que gostaria de ter tido a oportunidade de lhe dizer ali, digo-o agora nesta carta aberta.
A agricultura portuguesa está numa encruzilhada: vai voltar a ser o parente pobre da economia ou aproveitamos o novo paradigma que foi alcançado e canalizamos para este setor as verbas necessárias? Temos a coragem de fazer da agricultura uma prioridade política e investimos aqui mais 300 milhões de euros do erário público nacional ou deitamos fora o que foi conseguido e retrocedemos décadas, com as consequências para o emprego, para as exportações e para a modernização da economia?
É preciso negociar com Bruxelas o aumento do Orçamento Nacional para a Agricultura e o respeito pela regra do défice excessivo? Que se negoceie! É preciso cortar nas gorduras do Estado sem dó nem piedade? Que se corte! É preciso convidar o comissário europeu para a Agricultura, o presidente da Comissão Europeia e o presidente do Eurogrupo a visitarem Portugal? Vamos a isso! Aqui, V. Ex.ª tem um papel fundamental para juntar à mesma mesa as personalidades que contam. Apelo-lhe para que patrocine este debate em Portugal e no seio da União Europeia. Poucos debates, e V. Ex.ª sabe-o melhor do que ninguém, são tão importantes para o nosso futuro.
Nos últimos anos, a agricultura foi a almofada social perfeita para suster o choque provocado em muitas famílias: desemprego, cortes de salários, pensões, etc. A agricultura criou riqueza e emprego líquido, uma nova e jovem fornada de agricultores olhou para a agricultura como uma segunda oportunidade para a sua vida. Trouxeram inovação, modernização, empreendedorismo. Não podemos deixar morrer esta semente que já está a dar bons frutos, sobretudo nas regiões interiores de Portugal. Onde há iniciativa, arrojo, dedicação e paixão tem de haver dinheiro. Temos de apostar em maximizar os apoios ao investimento em projetos agrícolas.
Temos de honrar os compromissos e as expetativas daqueles que já avançaram para um regresso à terra, com paixão, ilusão, mas muito sentido de responsabilidade e de critério. A agricultura pode mudar para melhor o paradigma da nossa economia: mais exportações, mais inovação, mais desenvolvimento. A agricultura pode duplicar o seu PIB na economia nacional e ajudar a equilibrar a nossa balança comercial. O papel de V. Ex.ª é decisivo e fundamental, seja através da palavra, seja através de iniciativas como a que recentemente levou a cabo, intitulada “Portugal Próximo”.