A Cáritas da Ilha Terceira, nos Açores, está a incentivar crianças e famílias a comer e a cultivar produtos hortofrutícolas, com várias atividades, sob o lema de que não há um planeta B.
“O projeto tem um foco muito grande que é o estímulo e o consumo da produção de produtos hortícolas a nível local”, adiantou, em declarações à Lusa, o coordenador do projeto “As Nossas Quintas – No Planet B”, Rui Drumonde.
Há dois anos, a instituição criou a empresa social “As Nossas Quintas”, que tem como missão a integração de jovens no mercado de trabalho, através da produção e comercialização de produtos biológicos.
Nos terrenos, situados na própria sede da Cáritas da Ilha Terceira, em Angra do Heroísmo, surgiu agora uma quinta pedagógica, que dá a conhecer o processo de produção a crianças de colégios e jardins de infância do concelho, com o objetivo de lhes incutir o gosto pelo consumo de frutas e legumes.
“Há muita surpresa, para já porque as crianças não estão habituadas a mexer na terra. É uma novidade para elas”, revelou Rui Drumonde.
Iniciado em dezembro de 2018, o projeto da Cáritas da Ilha Terceira, cofinanciado pela União Europeia e pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, através do projeto “No Planet B” da Assistência Médica Internacional (AMI), tem uma duração de um ano.
Nesse período, as crianças dos colégios e jardins de infância vão deslocar-se à quinta pedagógica para fazerem a sementeira, o transplante para a estufa e a colheita de hortícolas, que depois ingerem num almoço.
Em dois colégios, já foi feita essa experiência e, segundo o coordenador do projeto, a reação dos mais novos foi positiva.
“As próprias educadoras referem que o facto de eles terem participado nas atividades e terem tido contacto com a produção estimulou-os de alguma forma a consumir hortícolas”, salientou.
O projeto prevê ainda sessões exploratórias com crianças de turmas do 3.º e 4.º anos para incutir hábitos de consumo de hortofrutícolas.
Rui Drumonde admitiu que a tarefa “não é propriamente fácil”, até porque as crianças seguem o “exemplo dos mais velhos”.
O truque, explicou, está em escolher hortícolas com crescimento rápido, para que as crianças possam acompanhar a sua evolução, mas também de sabor mais atrativo.
“Se nós pensarmos naquilo que é mais tradicional, como as couves e os nabos, que têm um sabor muito intenso, e se pegarmos noutras como a alface, como o espinafre, algumas têm um sabor mais atrativo. Eles acabam por incluir aquilo na sua alimentação, pelo menos naquele dia, e se calhar chegam a casa e já querem fazer mais algumas saladas. Já aconteceu isso nalguns casos”, apontou o responsável.
O projeto prevê, por outro lado, um incentivo ao cultivo, através da promoção de pequenas hortas domésticas, junto de famílias com maior vulnerabilidade social.
“Pode ser uma hortinha que tenha no seu quintal, o mais pequeno que seja, mas que sirva para a pessoa começar a ter o hábito de produzir coisas que depois pode consumir e poupar dinheiro”, adiantou Rui Drumonde.
A iniciativa já integra nove famílias, que recebem apoio técnico, de acordo com as normas da agricultura biológica, e o objetivo é alargá-la a outras 11 até ao final do ano.
O Centro de Desenvolvimento e Inclusão Juvenil da Cáritas da Ilha Terceira procura também com este projeto lançar a semente para que haja uma maior aposta na sensibilização da população para as alterações climáticas e para a necessidade de sustentabilidade ambiental, a começar pelos mais novos.
“Queremos que as pessoas olhem para isto com outro olhar e passem a ter algum cuidado, nomeadamente com a questão da reutilização de materiais, com a reciclagem e com o cuidado que têm com a terra”, frisou o coordenador do projeto.