A Câmara de Vouzela aprovou o pedido de um empréstimo bancário de 120 mil euros para recuperar acessos florestais, apontando a ausência de apoios do Estado e da União Europeia para esse fim, anunciou hoje a autarquia.
“O ordenamento, a floresta e a agricultura é algo que nos deve preocupar a todos. Temos feito tudo o que está ao nosso alcance, estamos a dar tudo o que temos para dar resposta, e mais, vamos ter que recorrer a um empréstimo bancário municipal para poder recuperar parte dos caminhos florestais”, adiantou o presidente da câmara, Rui Ladeira, que falava no final da cerimónia de entrega de sete casas que arderam no concelho nos incêndios de outubro de 2017.
O autarca lamentou o facto de “ter que utilizar estes recursos para este fim”, considerando que estes “deviam estar enquadrados no setor da agricultura e floresta”. Por outro lado, defendeu a existência de “mecanismos europeus e até nacionais para dar algum conforto às autarquias e juntas” de freguesia.
“Já vou para duas décadas em funções do serviço público, ao serviço do município, e não me lembro de alguma vez termos de pedir empréstimos bancários para preparar e capacitar infraestruturas florestais e rurais”, apontou.
Da estratégia municipal faz parte a “proteção das manchas florestais ainda existentes” e a recuperação “daqueles caminhos da exploração da madeira, porque as pessoas ainda têm alguma vontade de voltar a plantar e de recuperar as suas áreas” florestais.
“Se não tiverem um acesso condigno, porque hoje, se com um trator não conseguem aceder às suas próprias propriedades, como é que podem investir? Portanto, o município está a fazer as vias estruturantes florestais, capacitá-las, fazendo o mínimo indispensável, desviando as águas, fazendo alguns aquedutos e regularizar a plataforma”, explicou.
O presidente da câmara mostrou-se ainda preocupado com a “percentagem crescente de espécies inflamáveis que estão previstas no plano de ordenamento que existe para Vouzela” e questiona “como é que é possível que isso possa acontecer”.
“Um plano estratégico para as próximas décadas, que está para ser aprovado, aumenta em 10% as espécies de risco de incêndio elevado e isto não pode acontecer. Então acabámos de ter uma calamidade e já temos o risco de espécies de crescimento rápido e espécies inflamáveis?”, contestou.
No seu entender, “estas espécies têm um papel muito forte naquilo que é a propagação e descontrolo dos incêndios” e, por isso, não compreende como é que o “plano regional do Centro Litoral apresenta o risco de incêndio”.
Neste sentido, Rui Ladeira pergunta “onde estão os planos de ordenamento rural integrados com a parte urbana”, para logo de seguida responder que “não existem” e, por isso, considera que desta forma “não é possível ter uma estratégia de diminuição de risco de incêndio”.
Rui Ladeira teme que, “dentro de meia dúzia de anos, vai haver um problema similar”, tendo também em conta as alterações climáticas e lamenta ainda que “a madeira que está na floresta, nomeadamente o pinho, ainda não tenha sido retirada das florestas”.
“Acredito que cerca de 50% da madeira que lá está não vai ser retirada porque ela está todos os dias a perder valor comercial, já passaram chuvas e passou ano e meio e dentro de poucos meses ficará toda desfeita”, lamentou.
Relativamente às habitações afetadas pelos incêndios de 2017, o presidente da câmara revelou que das 38 atingidas, ficam a faltar 11, com entrega prevista “no decorrer dos próximos dois meses”.
Hoje foram entregues quatro casas totalmente reconstruídas, todas da freguesia de Ventosa, e três de forma parcial na freguesia de Ventosa, de Campia e da União de Freguesias de Fataúnços e Figueiredo das Donas.
Fonte: Sapo.pt