Fencaça escreveu ao ministro do Ambiente e da Transição Energética, acusando-o de estar “a ser aconselhado pelo BE e pelo PAN, parceiros privilegiados do Governo nesta matéria”.
A Federação Portuguesa de Caça (Fencaça) enviou nesta segunda-feira uma carta ao ministro do Ambiente e da Transição Energética a exigir a retoma da caça ao javali. Caso tal não aconteça, pede às entidades gestoras das zonas de caça que não paguem as taxas ao Estado e ameaça realizar em Julho “uma grande manifestação, que aglutine todos os sectores que coabitam no mundo rural”.
A 18 de Março, depois de ter sido declarado o estado de emergência, a caça ao javali para correcção desta espécie cinegética foi cancelada. Um mês depois, foi autorizada, mas voltou a ser interditada entre os dias um e três de Maio, aquando da proibição de circulação entre concelhos. Até agora, não foi reaberta.
Na carta envida a Matos Fernandes, a Fencaça, que diz representar 100 mil caçadores, começa por assumir que, aquando da formação do Governo, pressentiu “que nada de bom aí vinha para o sector da caça” devido à passagem da tutela desta actividade do ministério da Agricultura para o do Ambiente. “Rapidamente verificámos que o sector da caça só serviria para pagar taxas e licenças”, diz a federação.
Afirma ainda que, após consultar vários juristas, lhe tem sido “reiteradamente dito que, com o fim do Estado de Emergência, todas as actividades ao ar livre e que não prevejam aglomeração de pessoas nem partilha de instalações sanitárias” podem ser retomadas.
A associação também não aceita que a caça seja comparada à pesca, nomeadamente a de mar, “que é praticada na costa marítima”, e em que muitas vezes um barco leva vários pescadores. “A caça de espera aos javalis é feita no interior rural de forma individual de bem com a natureza e em regiões que por maioria de razão são as menos afectadas com a covid-19”, assegura.
A Fencaça salienta que a razão para a não reabertura da caça ao javali “é política” e diz que Matos Fernandes “está a ser aconselhado pelo BE e pelo PAN, parceiros privilegiados do Governo nesta matéria”.
“A continuar esta discriminação em relação ao sector da caça, só nos resta apelar às entidades gestoras das zonas de caça que não paguem as taxas, porque dessas o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas nunca se esquece. Apelar aos caçadores para não tirarem as licenças de caça e preparar-nos para no mês de Julho fazermos uma grande manifestação, que aglutine todos os sectores que coabitam no mundo rural”, conclui a missiva.
Jacinto Amaro, presidente da Fencaça, disse ao PÚBLICO lamentar esta paralisação da caça ao javali, afirmando que o número destes animais selvagens “esteja a aumentar e a destruir cada vez mais culturas agrícolas”.
O presidente da federação recorda ainda “os muitos acidentes rodoviários que se têm verificado” com javalis à solta nas estradas e os “perigos para a saúde pública, devido febre suína africana, que já foi detectada em alguns países da União Europeia.
“O Governo sabe de tudo isto, do perigo que são estes animais, e nada faz. Tudo isto é incompreensível”, acrescentou.