Encontro teve como objetivo apresentar os critérios presentes no Protocolo Carne Baixo Carbono (CBC) e auxiliar os pecuaristas a situarem seus sistemas de produção diante deste novo modelo.
Um guia prático elaborado pela organização Amigos da Terra – Amazônia Brasileira contendo um passo a passo simplificado para facilitar sua implementação foi entregue aos pecuaristas presentes
No dia 10 de outubro, representantes da Marfrig, Embrapa Gado de Corte, Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e produtores de gado se reuniram na planta do frigorífico em Promissão – SP. O workshop teve como objetivo apresentar os critérios presentes no Protocolo Carne Baixo Carbono (CBC) e auxiliar os pecuaristas a situarem seus sistemas de produção diante deste novo modelo, mais eficiente tanto do ponto de vista produtivo quanto climático.
Na ocasião, o gerente de sustentabilidade da Marfrig, Leonel Almeida, ressaltou o compromisso da empresa com a sustentabilidade dentro desta cadeia produtiva e sua a atuação pioneira na busca por soluções que garantam a adoção de boas práticas socioambientais pelos seus fornecedores no campo.
“Acreditamos que as boas práticas agropecuárias que envolvem recuperação e manejo adequado das pastagens e até a integração Lavoura-Pecuária (ILP) contribuem para o objetivo de construir uma pecuária mais sustentável e livre de desmatamento e está em linha com o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Marfrig. Buscamos motivar a disseminação das boas práticas na indústria e para produtores parceiros”.
Pecuária de baixo carbono
O Protocolo CBC, desenvolvido pela Embrapa, é o primeiro do Brasil a estabelecer um conjunto de critérios e procedimentos auditáveis e certificáveis, que garantem a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa pelo sistema produtivo da bovinocultura de corte e a obtenção de um selo para a carne, que possibilita ao consumidor optar por um produto com atributos de descarbonização nas gôndolas dos supermercados. O estudo pode ser acessado pelo link.
“A contabilização das emissões de carbono presentes nos produtos é um quesito já solicitado pelos mercados mais exigentes e vem se tornando um atributo cada vez mais valorizado pelos consumidores”, ressaltou Almeida durante o evento.
O protocolo se fundamentou em um estudo realizado em uma Unidade de Referência Tecnológica da Embrapa na Bahia, no bioma Cerrado, em 2021, no qual foram avaliados parâmetros como o estoque de carbono, ganho de peso do gado, qualidade da carne e emissões de metano. Os resultados mostraram que, com a adoção do manejo adequado do sistema, é possível aumentar a produtividade e a qualidade da carne, trazendo mais lucratividade para o pecuarista, sem a necessidade de expansão de sua área produtiva.
“Além de termos conseguido obter um maior ganho de peso, emitimos menos carbono. Todos os sistemas mais eficientes emitem menos carbono em qualquer lugar do planeta, e com a pecuária não é diferente”, pontuou Roberto Giolo, da Embrapa Gado de Corte, pesquisador líder da Plataforma de Pecuária de Baixo Carbono e um dos desenvolvedores do protocolo.
Essa foi a primeira vez que o Protocolo CBC foi apresentado para os fornecedores da Marfrig, empresa que detém atualmente exclusividade no uso da marca comercial. “Os primeiros produtores têm um papel crucial para trazer a adesão de outros produtores e colocar o produto no mercado”, ressaltou Giolo durante o evento.
O pesquisador da Embrapa explicou que, diferentemente de outros tipos de certificação, a unidade certificada não é a propriedade, mas sim a área destinada à produção de baixo carbono, o que possibilita que o produtor vá expandindo suas áreas de produção conforme se sinta apto e perceba se existe a demanda pelo seu produto. Estão habilitadas para operar como certificadoras desse protocolo o Sistema Brasileiro de Certificação (SBC), o IBD, a Genesis Certificações e a Pantanal Certificadora.
Parceria Embrapa – Marfrig
A parceria estratégica entre Embrapa e Marfrig foi estabelecida em 2019 e visa aumentar o valor agregado da carne bovina brasileira por meio de marcas conceituais voltadas para a realidade do pecuarista, balizadas pela ciência e por padrões internacionais: a Carne Carbono Neutro (CCN), lançada em 2020, e a Carne Baixo Carbono, cujo lançamento oficial deve ocorrer em 2024.
Diferente da primeira, a marca conceito CBC não inclui o componente florestal – necessário para neutralizar as emissões de carbono dos sistemas CCN -, o que possibilita maior escalabilidade de seu sistema, uma vez que apenas cerca de 2% das áreas de pastagem cultivadas no Brasil estão inseridas em sistemas de integração com componente florestal.
Os sistemas CBC produzem animais cujas emissões de metano foram mitigadas pelo próprio processo produtivo, pela redução na idade do abate, melhoria da dieta dos animais e por meio do aumento do estoque de carbono no solo, resultante da adoção de boas práticas agropecuárias envolvendo recuperação e manejo sustentável das pastagens e/ou sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP).
A fim de trazer os conceitos gerais e apresentar os requisitos mínimos deste protocolo, a Amigos da Terra elaborou o Guia para a produção de baixo carbono: aplicação do protocolo da carne baixo carbono (CBC) da Embrapa.
“O guia fornece um passo a passo para a implementação do protocolo, servindo como um referencial de partida para os produtores que tiverem interesse em entender mais, antes de ingressarem neste processo de certificação”, explicou Natália Grossi, analista de cadeias agropecuárias da Amigos da Terra.
O documento traz de forma sistematizada e simplificada os 20 requisitos essenciais para iniciar o processo. Além disso, o guia traz links úteis para facilitar o acesso rápido a ferramentas que poderão auxiliar no cumprimento e na checagem dos critérios pelos próprios produtores.
Para entrar em vigor, o Protocolo CBC deverá ser disponibilizado ao público na plataforma Agri Trace Rastreabilidade Animal, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em 2024. Para aderir à certificação, a propriedade deverá demonstrar, já na auditoria inicial, estar em conformidade com os 20 requisitos mínimos obrigatórios para a implantação do sistema, de um total de 67, que serão requeridos progressivamente ao longo de auditorias bienais. O protocolo na íntegra será disponibilizado apenas aos produtores que ingressarem na plataforma.
O artigo foi publicado originalmente em Embrapa.