Pecuaristas da Amazónia brasileira começaram a atribuir números de identidade ao gado bovino para rastrear a origem, uma nova política pública para ajudar no controlo sanitário e ambiental, mas que avança lentamente devido à resistência de parte do setor.
O Pará, estado que acolherá em novembro a próxima cimeira climática das Nações Unidas (COP30), tem 25 milhões de vacas — três vezes mais do que a sua população — e o Governo estadual pretende identificá-las todas até ao final de 2025, segundo a agência de notícias espanhola Efe.
Embora o principal objetivo seja sanitário, os brincos também contêm informações sobre a proveniência de cada animal, permitindo às autoridades saber se provêm de quintas com desflorestação ilegal.
O sucesso da pecuária no Brasil, o maior exportador de carne bovina do mundo, foi construído à custa da desflorestação maciça da Amazónia: 520 mil quilómetros quadrados entre 1984 e 2024, uma área maior do que a de Espanha, salienta a Efe.
O setor agropecuário é hoje o maior responsável pela desflorestação no país e a principal fonte de emissões de metano.
O Governo Federal seguiu os passos do Pará e aprovou uma política semelhante para todo o país, que será implementada entre 2027 e 2032, acrescenta.
As principais empresas de carne asseguram ter um controlo total sobre os seus fornecedores, mas essa vigilância torna-se menos forte em relação àqueles que vendem aos próprios fornecedores.
Neste contexto, o medo de serem controlados tem levado muitos pecuaristas a resistir à identificação do seu gado, o que põe em risco o cumprimento das metas do Pará.
A empresa de carnes Masterboi doou brincos aos seus fornecedores, mas mesmo assim a responsável de Conformidade da empresa, Sandra Catchpole, disse à agência noticiosa espanhola Efe, que será “bem complicado” cumprir o prazo, porque muitos estão “na defensiva”.
Também à Efe, Pedro de Abreu, um agricultor de 40 anos que recebeu apoio das ONG Amigos da Terra e Imaflora para identificar o seu rebanho, disse ser o único entre os seus vizinhos que já o fez.
“Por vezes, os agricultores têm áreas com desflorestação ilegal e pensam que o Governo vai descobrir”, explicou.
Essa resistência deixou os que já identificaram o seu gado com a sensação de estarem num limbo, refere a Efe.
Abreu diz que deixou de vender vacas porque algumas quintas afirmaram não querer animais com brincos.
Por essa razão, apelou a incentivos dos bancos e do Governo para compensar o custo.