A China, responsável por metade dos suínos do mundo, identificou a primeira ocorrência da gripe suína africana em agosto de 2018, numa fazenda com menos de 400 porcos nos arredores de Shenyang. Morreram 47 suínos devido à doença contagiosa viral, provocando medidas de emergência como o abate em massa e um bloqueio para impedir o transporte de gado. Depois de alguns dias, um aviso do governo declarava que o surto tinha sido “efetivamente controlado”.
Era tarde demais. A doença já se tinha tornado literalmente viral e se espalhado por centenas de quilómetros com animais doentes, contaminando alimentos, e espalhando-se através do pó transportado nos pneus de caminhões e nas roupas. Nove meses depois, o contágio espalhou-se por todo o país, cruzou fronteiras com a Mongólia, o Vietname e o Camboja, e deu impulso aos mercados de carnes globalmente.
Enquanto estimativas oficiais indicam um milhão de porcos abatidos, os dados de abate sugerem que um número 100 vezes maior será eliminado do rebanho de 440 milhões de suínos da China em 2019, o “ano do porco” do zodíaco chinês. O Departamento de Agricultura dos EUA projetou em abril uma redução de 134 milhões de cabeças – equivalente a toda a produção anual de suínos nos Estados Unidos – e a pior queda desde que o departamento começou a recolher os dados do segmento na China em meados da década de 1970.
“É uma situação sem precedentes”, disse Arlan Suderman, economista-chefe da INTL FCStone, que analisa os mercados de commodities há quase quatro décadas. “Isto vai ter impacto nos preços dos alimentos globalmente.”
O surto da febre suína africana que se espalha pela Ásia é inegavelmente preocupante, matando praticamente todos os porcos que infeta com uma doença hemorrágica que lembra o ébola em humanos. Não há dados sobre infeção de humanos.
A morte dos porcos é especialmente crítica para a China, cuja indústria suína movimenta 128 mil milhões de dólares, com o terceiro maior consumo per capita do mundo.
O rebanho de porcos da China pode diminuir em até 30%, revelou Juan R. Luciano, presidente da Archer-Daniels-Midland, umas das maiores tradings de commodities agrícolas.
“A China precisará claramente de importar quantidades substanciais de carne de porco e, provavelmente, outros tipos de carne e aves para responder à procura”, disse Luciano a analistas numa teleconferência a 26 de abril. As compras chinesas de carne também podem impulsionar as vendas de farelo de soja, uma fonte de ração animal, da América do Norte, Brasil e Europa, disse.
Os preços da carne suína na China nos grossistas apontam para uma subida de 21% na comparação anual, e também subiram nos EUA e na União Europeia depois de os processadores terem enviado mais produtos para a China. O preço do bacon em Espanha aumentou cerca de 20% em março, enquanto o da carne de porco subiu 17% na Alemanha, segundo a Interporc, uma associação industrial com sede em Madrid.
Estas subidas expressivas também impulsionam outros mercados de carnes. As exportações de carne bovina da Austrália para a China aumentaram 67% no primeiro trimestre. No Brasil, as ações de empresas como a JBS e a Minerva subiram num ambiente de otimismo sobre o aumento de vendas para o mercado chinês.
(Texto original: Pig ‘Ebola’ Virus Sends Shock Waves Through Global Food Chain)