A bioenergia produzida a partir de matéria orgânica, como a biomassa florestal, contribui para mitigar as alterações climáticas.
Depois do sol, a biomassa é uma das fontes de energia que o Homem utiliza há mais tempo. No entanto, face ao desafio das alterações climáticas, está a ganhar uma nova dimensão como fonte natural e renovável, com vantagem em relação aos combustíveis fósseis, finitos e prejudiciais ao ambiente.
A biomassa, nas suas mais diversas formas – matéria orgânica, de origem vegetal ou animal, que pode ser utilizada como fonte de energia – é um armazém de energia solar. Tudo começa na fotossíntese, quando as plantas usam o sol para transformar o dióxido de carbono da atmosfera, a água e os minerais, em oxigénio e hidratos de carbono, tais como a celulose e os açúcares. Ou seja, a energia que promove o seu crescimento.
Em Portugal, o Decreto-Lei nº 117/2010 considera que, para a produção de energia renovável, a biomassa é “a fração biodegradável de produtos, resíduos ou detritos de origem biológica provenientes da agricultura, incluindo substâncias de origem animal e vegetal, da exploração florestal e de indústrias afins, bem como a fração biodegradável dos resíduos industriais e urbanos”. Em termos florestais, isto significa que só devem ser considerados para bioenergia os resíduos florestais e das indústrias de base florestal, mas não a madeira.
A The Navigator Company não planta nem colhe árvores para a produção energética, recorrendo apenas a materiais que não têm outro potencial de utilização.
É o que faz a The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, que produz 34% do total da energia gerada em Portugal a partir de biomassa. A The Navigator Company não planta nem colhe árvores para a produção energética, recorrendo apenas a materiais que não têm outro potencial de utilização: 80% são licores do processo, um subproduto do processo de produção de pasta de papel, e 20% são biomassa florestal residual (sobrantes e resíduos florestais, como casca, nós ou lamas do processo ricas em fibras). Um exemplo de economia circular, que representa mais uma vantagem em relação aos combustíveis de origem fóssil, que alimentam um modelo económico linear que é necessário substituir.
O aproveitamento e valorização de resíduos provenientes da limpeza e gestão florestal para a produção energética não só contribui para dinamizar a economia rural (de onde provém a maior parte da biomassa) e nacional (reduzindo a dependência da importação de combustíveis), como apresenta também o benefício de contribuir para a limpeza das florestas, reduzindo a carga combustível nos terrenos e, consequentemente, o risco de incêndio.
A Navigator, recorde-se, foi a primeira empresa portuguesa, e uma das primeiras a nível mundial, a definir o compromisso de antecipar em 15 anos a neutralidade carbónica dos seus complexos industriais. O objetivo é reduzir as emissões diretas de CO2 em cerca de 86%, face a 2018, e aumentar o nível de utilização de energia de fontes renováveis, para que esta represente, em 2030, 80% do consumo total de energia primária da Companhia.
Só em 2022, este compromisso traduziu-se numa redução de 28% das emissões da Navigator, face a 2018. Ainda assim, é de referir que 86% das suas emissões são de CO2 biogénico, cujo carbono fora anteriormente capturado na biomassa, e apenas 14% são geradas pelo consumo de combustíveis fósseis.
O CO2 biogénico – ou seja, de origem biológica – é diferente do de origem fóssil, porque já foi previamente sequestrado da atmosfera por fotossíntese e armazenado nas plantas. A queima da biomassa resulta, por isso, em emissões neutras em carbono.
A biomassa no cumprimento das metas energéticas
O acordo alcançado pelos Estados-membros da União Europeia e o Parlamento Europeu, a 30 de março, que estabeleceu a meta de 42,5% de energias renováveis no consumo energético europeu até 2030 – quase o dobro do nível atual de 22% –, reafirma a biomassa como uma fonte “verde”. Enquanto bioenergia, representa “cerca de 11% do consumo de energia primária mundial, constituindo o único recurso energético com carbono que se pode considerar emissor neutro de CO2”, pode ler-se no site da Direção-geral de Energia e Geologia. A biomassa pode ser queimada diretamente para gerar calor e/ou eletricidade, ou convertida em óleo ou gás para produção de biocombustíveis sólidos, líquidos e gasosos, que podem ser usados como combustíveis em vários setores, incluindo os transportes.
A valorização de resíduos provenientes da gestão florestal para a produção energética não só contribui para dinamizar a economia rural e nacional, como apresenta o benefício de contribuir para a limpeza das florestas.
Segundo o Eurostat, em 2021 Portugal ficou no sétimo lugar do ranking de energias renováveis no consumo final bruto de energia entre os 27 Estados-membros da União Europeia, com 34%, e acima da média europeia. Os dados mais recentes da REN – Redes Energéticas Nacionais, mostram que nos primeiros três meses de 2023, a produção de energia elétrica com origem em fontes renováveis abasteceu 72% do consumo nacional e a biomassa contribuiu com 6%.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.