A EasyNut Tecnología, empresa de consultoria agronómica em frutos secos, realizou um ensaio em nogueiras para avaliar a eficácia da aplicação de estirpes de bactérias Enterobacter, Acinetobacter e Bacillus, presentes num bioestimulante desenvolvido pela Tecniferti e pelo Laboratório de Rhizobactérias (Rhizolab) da Universidade de Aveiro, na melhoria da assimilação do fósforo e do azoto pelas plantas e o seu reflexo no rendimento e no calibre dos frutos.
O bioestimulante testado encontra-se em fase pré-comercial e resulta de uma colaboração entre o Rhizolab e a Tecniferti, fabricante nacional de fertilizantes líquidos para a agricultura, que está a investigar os efeitos da aplicação de microrganismos promotores de crescimento nas plantas e a desenvolver soluções inovadoras para a agricultura. Parte desta atividade enquadra-se nas atividades de um doutoramento em ambiente não académico (2023.04964.BDANA) que decorre nas duas entidades.
O ensaio foi realizado na Herdade do Reguengo, em Cabeção, no Alentejo, num pomar adulto de nogueiras da variedade Chandler, com 7 anos de idade, compasso de plantação de 7,5 m × 5,5 m e sistema de condução em eixo central revestido. A plantação está sob condições de irrigação total (aproximadamente 6000 m3/ha por ano) com sistema gota a gota.
Rentabilidade, eficiência e sustentabilidade
“Na EasyNut Tecnología temos uma componente importante de desenvolvimento tecnológico, procuramos novas soluções que permitam ao agricultor ser mais eficiente. E com estas bactérias potenciamos um solo vivo com mais microrganismos ativos. O objetivo do ensaio foi testar se esta solução permite produzir noz com maior eficiência, maior sustentabilidade e maior rentabilidade”, explica Manuel Machadinha, responsável da EasyNut Tecnología para a Península Ibérica. Esta empresa chilena presta assistência a mais de 2500 hectares de pomares de nogueiras, amendoais, pistácio, avelã e noz pecan em Portugal e Espanha.
O bioestimulante à base de estirpes de bactérias dos géneros Enterobacter, Acinetobacter e Bacillus foi aplicado uma única vez no pomar, através do sistema de rega, no início do ciclo de fertirrega, no dia 21 de maio de 2024. Para efeitos de comparação foi estabelecida uma parcela testemunha sem aplicação do bioestimulante.
Durante o período do ensaio, que decorreu entre maio e outubro de 2024, foram realizadas análises foliares por duas vezes, a 21/06/2024 e a 12/08/2024, com o objetivo de avaliar o estado nutricional das plantas e compreender o impacto da aplicação das bactérias na sua nutrição. Essas análises focaram-se, sobretudo, na determinação dos nutrientes fósforo (P) e azoto (N), permitindo verificar possíveis variações nos seus teores e a influência das aplicações efetuadas (Tabela 1).
“Verificamos que ao longo do período analisado a redução da percentagem de azoto e de fósforo é mais acentuada nas folhas das nogueiras na parcela testemunha do que nas folhas das nogueiras submetidas à aplicação de bactérias, o que significa que a planta tratada trabalhou mais tempo de forma confortável, ou seja, conseguiu transferir os nutrientes necessários ao crescimento dos frutos durante mais tempo, pelo que as análises foliares revelam menor perda de nutrientes”, esclarece Manuel Machadinha.
“O nosso objetivo é utilizar as bactérias da Tecniferti em larga escala nos planos de fertilização dos nossos clientes para que os seus pomares sejam mais eficientes e amigos do ambiente”
Mais miolo comestível
Após a colheita, foi realizada uma análise de qualidade de 100 nozes de cada modalidade do ensaio, comparando a testemunha com o tratamento/aplicação, avaliando fatores como cor do miolo, calibre, rendimento e danos internos e externos.
Para este estudo são considerados apenas calibre e rendimento do fruto, por serem fatores quantitativos e que mais facilmente podem ser relacionados com a aplicação das bactérias no solo e com os nutrientes na planta.
“Existem diferenças no rendimento do miolo comestível, com um acréscimo de 10% nas árvores tratadas com as bactérias, comparativamente à testemunha. Isto indica que a aplicação das bactérias pode ter contribuído para uma melhor absorção de nutrientes, a planta ‘trabalhou’ mais, fez mais fotossíntese e acumulou mais hidratos de carbono nos frutos, resultando numa maior proporção de miolo aproveitável do fruto”, esclarece o técnico da EasyNut Tecnología.
Mais frutos de maior calibre
A análise da distribuição dos calibres mostra um efeito positivo da aplicação das bactérias, especialmente no aumento da proporção de frutos de maior calibre. Observa-se que, na testemunha, a maior parte dos frutos encontra-se nas categorias 34–36 e 32–34, com 35 e 29 unidades, respetivamente. Na zona de aplicação, esses valores aumentam para 46 e 37 unidades, indicando que a aplicação das bactérias favoreceu o maior desenvolvimento dos frutos.
Além disso, verifica-se uma redução na quantidade de frutos de calibres menores. Na testemunha, há uma presença considerável de frutos nos calibres 30–32 e 28–30, com 14 e 9 unidades, respetivamente. Na área tratada, esses valores diminuem para 5 e 1, mostrando que a aplicação contribuiu para um melhor enchimento dos frutos, deslocando a distribuição para categorias superiores de calibre.
É também relevante notar que na categoria 38+, que representa os frutos de maior tamanho, há uma unidade na testemunha, enquanto na aplicação esse valor é inexistente. No entanto, a maior concentração de frutos nas classes 34–36 e 32–34 na zona tratada indica que a aplicação das bactérias melhorou o desenvolvimento dos frutos de forma mais uniforme, reduzindo a ocorrência de frutos de menor calibre.
O impacto mais significativo no rendimento de miolo comestível indica que esta tecnologia pode ser especialmente relevante para otimizar a qualidade e o calibre, aumentando o valor comercial da produção. O que sugere que as bactérias tiveram um impacto positivo na disponibilidade e absorção de nutrientes, favorecendo um crescimento mais eficiente e homogéneo dos frutos.
“Se aplicarmos estas bactérias nos pomares podemos reduzir significativamente a aplicação de azoto e de fósforo e isso representa uma conta de cultura menor para o produtor, menos custos por kg de noz e maior rentabilidade”, afirma Manuel Machadinha, acrescentando que a fertilização pode representar 1/5 do custo da conta de cultura da noz.
Guerra de tarifas pode alavancar o preço da noz
O mercado da noz atravessou um período difícil nos últimos três a quatro anos, mas 2024 foi um ano extremamente positivo. “Em 2024, houve um aumento significativo do preço da noz à produção, de 2€ para 3€ a 3,5 €/kg, o que está a trazer novo ânimo ao setor, com a plantação de novos pomares e a reativação de pomares semiabandonados”, revela Manuel Machadinha. E a razão é a de sempre: o Chile e os EUA, que são os grandes fornecedores de noz ao mercado europeu, produziram menos 30% deste fruto seco em 2024, em comparação com o ano anterior, gerando maior procura pelas nozes europeias.
Por outro lado, “o setor tem muita expectativa no tema dos embargos e das tarifas, o que pode aumentar ainda mais o preço das nozes e das amêndoas americanas, e levar os compradores europeus a privilegiar os frutos secos produzidos na Península Ibérica”, explica o consultor da EasyNut Tecnología, realçando a outra face da moeda: “Estamos mais perto dos consumidores e isso é valioso quando falamos de reduzir a pegada de carbono dos frutos secos, dá-nos uma vantagem acrescida”.
Como atuam as bactérias benéficas?
As bactérias fixadoras de azoto e solubilizadoras de fósforo desempenham um papel crucial na melhoria da fertilidade do solo e na promoção do crescimento das plantas. São particularmente importantes em práticas agrícolas sustentáveis, pois disponibilizam nutrientes essenciais de maneira natural e eficiente.
No caso das bactérias fixadoras de azoto, estas podem fixar azoto atmosférico por meio de um processo biológico. Estas bactérias prosperam em solos aeróbios com pH neutro a levemente ácido e ricos em matéria orgânica, onde encontram energia suficiente para o processo de fixação. Como principais benefícios destacam-se a redução da necessidade de fertilizantes azotados químicos e o aumento da disponibilidade de azoto para plantas não leguminosas.
Já as bactérias solubilizadoras de fósforo, como as dos géneros Enterobacter, são capazes de solubilizar o fósforo complexado no solo. Este processo ocorre por vários mecanismos biológicos que incluem ácidos orgânicos e outros ou agentes quelantes e por enzimas como as fitases e as fosfatases, que transformam formas insolúveis de fósforo, como fosfatos de cálcio e ferro, em formas que as plantas podem absorver. Como benefícios, estas bactérias aumentam a eficiência do uso do fósforo aplicado, estimulam o desenvolvimento radicular e melhoram a capacidade de absorção de nutrientes pelas plantas, protegendo o meio ambiente e aumentado a sustentabilidade.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.