Um estudo, publicado na revista PLOS ONE, destacou o potencial de uma nova variedade de batata geneticamente modificada, denominada “3R-gene”, que demonstrou resistência ao míldio tardio, uma das doenças mais destrutivas para esta cultura.
Desenvolvida pelo Centro Internacional da Batata (CIP), no Peru, em colaboração com cientistas no Quénia, esta inovação poderá representar um ganho económico anual superior a 8 milhões de dólares para o país, além de contribuir significativamente para desviar milhares de pequenos agricultores da pobreza.
A investigação avaliou os benefícios de três novas variedades transgénicas — Shangi 3R-gene, Asante 3R-gene e Tigoni 3R-gene — desenvolvidas especificamente para resistir à doença. Estas variedades incorporam genes de resistência diretamente em cultivos locais já amplamente utilizadas pelos produtores, garantindo maior eficácia e aceitação no terreno.
Entre as três variedades analisadas, a Shangi 3R-gene destacou-se como a que poderá trazer maiores benefícios económicos. Segundo os investigadores, a adoção desta variedade transgénica poderá reduzir os custos de produção e aumentar significativamente os rendimentos por hectare.
“Este avanço representa não apenas um alívio financeiro para milhares de pequenos agricultores, mas também uma melhoria concreta nas condições de vida das comunidades que dependem da batata como fonte essencial de subsistência”, sublinham os autores do estudo.
Os especialistas estimaram ainda que a adoção generalizada da variedade Shangi 3R-gene poderá retirar da pobreza mais de 90 mil pessoas nos próximos anos. Ao reduzir a necessidade de aplicação de fungicidas e aumentar a produtividade, esta batata geneticamente modificada contribui para reforçar a segurança alimentar, sobretudo nas zonas rurais, onde muitas famílias dependem deste cultivo para a sua subsistência.
Adicionalmente, a redução das perdas causadas pelo míldio tardio poderá libertar recursos financeiros que antes seriam destinados à compra de fungicidas, permitindo aos agricultores canalizar esses meios para outras prioridades essenciais, como a educação ou o acesso a cuidados de saúde.
De acordo com os cientistas, a tecnologia “3R-gene” baseia-se na introdução de três genes de resistência ao míldio tardio em variedades locais de batata, com os investigadores a sublinharem que as variedades 3R-gene preservam integralmente as propriedades nutricionais e o sabor das batatas convencionais, o que consideram ser um fator decisivo para a sua aceitação pelos consumidores e para a sua integração nas cadeias alimentares locais
Os autores do estudo acreditam que este avanço posiciona o Quénia na linha da frente da inovação em biotecnologia agrícola em África, com a adoção de variedades transgénicas resistentes a doenças a representar uma estratégia moderna e eficaz para aumentar a produtividade, baixar os custos de produção e minimizar o impacto ambiental, ao reduzir significativamente a dependência de fungicidas químicos.
É ainda esperado que as primeiras sementes da variedade Shangi 3R-gene estejam disponíveis para cultivo já na próxima campanha agrícola do país.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.