Com uma tradição de milhares de anos, é comum vê-la na mesa por altura do Natal e do Ano Novo. Falamos da avelã, um fruto oleaginoso de outono que, desde a Idade da Pedra, tem vindo a afirmar os seus benefícios na culinária e na saúde. Saiba mais sobre as propriedades desta semente comestível.
Na China, um manuscrito de 2838 a.C. refere a avelã como um dos cinco alimentos sagrados. Na tradição alemã, era considerada símbolo de imortalidade e colocada nos túmulos para favorecer a regeneração. Nos países da Europa Central, este fruto costumava ser oferecido aos noivos, no dia de casamento, como símbolo de fertilidade.
Tanto a avelã como a aveleira (Corylus avellana), espécie difundida pela Europa e parte da Ásia, foram vistas como um símbolo de fertilidade e fecundidade e também os raminhos desta árvore eram usados em rituais de casamento. Diz-se também que o caduceu de Mercúrio (Hermes na mitologia grega) – bastão com asas e duas serpentes enroladas, símbolo da classe médica – integraria madeira de aveleira. Considerada uma árvore mágica e fonte de sabedoria, a sua madeira era também usada para fabricar cetros reais, assim como as varinhas usadas pelos vedores que procuravam água no subsolo.
Muitas são as histórias, relembradas pela equipa do Projeto Agro 162 “O incremento da produção da aveleira em Portugal”, que vêm confirmar a presença incontornável da avelã na tradição e alimentação humana desde tempos pré-históricos.
Mitos e histórias à parte, o sabor, textura, forma e outras propriedades organoléticas da avelã continuam a fazer dela uma matéria-prima apetecível para a transformação e a elaboração de produtos capazes de nos deliciar, como chocolates, gelados ou cremes para barrar o pão. É um dos ingredientes principais dos conhecidos bombons Ferrero Rocher, e é também usada nos tradicionais Gelato di Nocciola (gelado de avelã) de Itália, na Dacquoise de avelã (bolo com camadas de merengue de avelã) de França, nas baklavas e delícias turcas de avelã ou, em Portugal, nos ovos de pêga (doces da região de Aveiro feitos com açúcar, gema de ovo e avelã).
O seu valor nutricional e a sua versatilidade na culinária têm contribuído para que a avelã resista ao passar do tempo e continue hoje a satisfazer um conjunto de necessidades de saúde, dietéticas e alimentares.
Muito apreciada ao natural e em especial na doçaria, é presença assídua na mesa de Natal e Ano Novo, juntamente com outros frutos secos, como os pinhões ou as amêndoas. Apesar de lhe chamarmos fruto seco, a avelã é, na realidade, uma semente comestível que se encontra protegida por uma casca dura. Esta glande, inicialmente verde, está envolta por uma folhagem de margem dentada, que protege a semente. À medida que esta amadurece, adquire uma coloração castanha, por volta dos meses de setembro e outubro, altura em que está pronta para ser colhida.
Pelos seus atributos nutricionais, a avelã é um dos frutos secos que integram a dieta mediterrânica – reconhecida, pela UNESCO, em 2013, como Património Cultural Imaterial da Humanidade de vários países, entre os quais Portugal.
Com baixo teor de açúcares, a avelã é também rica em proteínas, vitaminas, fibras e muitos outros nutrientes essenciais numa alimentação equilibrada, desempenhando também um papel de destaque na prevenção de doenças graves, inclusive de certos tipos de cancro e aterosclerose. Diversos estudos têm vindo a demonstrar, ao longo dos anos, o efeito positivo do consumo desta semente nos níveis de colesterol e na prevenção de doenças cardiovasculares.
Eis alguns dos benefícios da avelã que a transformaram numa opção nutritiva e saudável:
• É rica em ácidos gordos, especialmente ácido oleico, que ajuda a baixar o colesterol; a gordura que fornece é insaturada, logo “boa”, estando associada a uma redução do risco de problemas cardíacos;
• Fornece antioxidantes (através dos seus compostos fenólicos), presentes sobretudo na sua pele, propriedades importantes para evitar o processo oxidativo que pode danificar a estrutura celular e promover o envelhecimento ou evitar doenças como o cancro e doenças cardiovasculares;
• É uma fonte de vitaminas, como a vitamina E, importante no fortalecimento do sistema imunitário, ou do complexo B, necessárias para que o nosso corpo tire energia das proteínas, gorduras e hidratos de carbono e, ainda, para manter o sistema nervoso saudável;
• É rica em proteínas, sendo uma das poucas fontes de origem não animal a fornecer nutrientes habitualmente obtidos a partir de produtos de origem animal;
• Tem fibras que ajudam à digestão e prevenção de doenças do intestino;
• Apresenta elevada riqueza em lípidos, o que a torna num produto com alto valor energético, recomendado, por exemplo, para praticantes de desporto, ajudando também a fortalecer os músculos;
• Possui elevados níveis de potássio e magnésio, contribuindo para normalizar a pressão arterial.
Não obstante os seus benefícios para a saúde e uma alimentação equilibrada, o seu consumo deve ser feito de forma moderada já que esta semente, a que chamamos tradicionalmente de fruto seco, tem um elevado valor calórico (cerca de 587 a 628 kcal por 100g). E quando comer uma avelã, não se esqueça de a mastigar bem para conseguir uma boa assimilação dos seus nutrientes.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.