O presidente da Câmara da Régua defendeu hoje que os viticultores durienses têm de ser justamente remunerados pela sua produção, a destilação do vinho excedente da região para aguardente e a rápida restauração da Casa do Douro.
A cidade do Peso da Régua, no distrito de Vila Real, vai ser palco na quarta-feira de uma manifestação de viticultores contra o corte na produção de vinho do Porto nesta vindima e por um maior controlo das importações de vinho e escoamento da produção a um preço justo.
O presidente daquele município, José Manuel Gonçalves, disse que vai estar ao lado dos viticultores durante o protesto e, em declarações à agência Lusa, defendeu que os produtores têm de ser “justamente remunerados” pela sua produção e pelo esforço com que mantêm a paisagem classificada como Património Mundial da UNESCO.
“Basta olharmos a este fenómeno de que nos últimos 22 anos houve uma diminuição do preço por pipa de mosto para vinho do Porto. Há 22 anos chegou a ser pago a 1.200 euros e hoje vemos que está a ser pago a 900 euros”, afirmou o autarca social-democrata, considerando que deve ser o “único setor do mundo com preços inferiores quando todos os custos de produção aumentaram”.
Mais do que o corte no benefício (a quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto), José Manuel Gonçalves coloca o foco no preço a que a pipa é paga aos viticultores.
“A questão que se coloca é que há redução do montante, mas não há qualquer evolução no preço e isso é insustentável do ponto de vista económico para o território”, realçou.
Pelo que apelou à “audácia de voltar a criar um modelo que dê um equilíbrio a quem comercializa e a quem produz”.
O conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) fixou o benefício nas 90.000 pipas (550 litros), o que representa um corte de 14.000 pipas em relação a 2023.
O autarca falou ainda sobre a questão da aguardente usada para a produção de vinho do Porto e defendeu que esta deveria ser produzida com os vinhos excedentes da região.
“Acho que a aguardente que é incorporada no vinho do Porto não é um produto inócuo, acho que não é aceitável que ele venha de subprodutos, daquilo que são os restos que são produzidos em Espanha, França e Itália, não aceito isso”, afirmou.
Referiu que “cerca de 70% do vinho do Porto é vendido a um preço médio de quatro euros e que o restante 30% ronda os 10 a 11 euros e salientou que a produção de aguardente na região poderá levar a um “acréscimo no preço médio do vinho na ordem de um euro”.
E, por isso, considerou que “é ridículo” não se avançar com uma solução que pode ajudar a dar estabilidade, sustentabilidade e melhoria de vida aos que habitam na região e trabalham no setor.
Portugal vai avançar com a destilação de crise, medida que visa mitigar a crise que resulta do excesso de vinho disponível no mercado, a queda no consumo e nas exportações e o aumento dos custos de produção.
Dos 15 milhões de euros disponibilizados pela Comissão Europeia, o Douro é a região que recebe a maior fatia (4,5 milhões de euros).
Ao valor destinado ao Douro acrescem mais 3,5 milhões de euros, com origem nos saldos de receitas próprias do IVDP.
“Eu estou convencido que vai ser a última vez que vamos ter a possibilidade de ter este apoio que vai amenizar um pouco, mas não resolve os nossos problemas. É mais um paliativo e nós temos é que olhar para soluções mais profundas”, realçou o autarca, que elogiou a “arte e engenho” com que o ministro da Agricultura “conseguiu este apoio extraordinário”.
José Manuel Gonçalves defendeu também a rápida implementação da lei aprovada na Assembleia da República que restaura a Casa do Douro como associação pública de inscrição obrigatória, justificando com a necessidade de uma “verdadeira representatividade” dos cerca de 19 mil viticultores espalhados pela região.
A manifestação na quarta-feira foi convocada pela Associação dos Viticultores e da Agricultura Familiar Douriense (Avadouriense), em conjunto com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e acontece a poucas dias do início das vindimas.