Sem um predomínio absoluto de uma espécie, Portugal tem uma variedade de espécies florestais superior a outros países europeus. Os montados de sobro e azinho representam um terço da floresta nacional.
Em Portugal continental existem quatro grandes grupos de formações florestais:
– folhosas perenifólias: montados de sobro (Quercus suber) e azinho (Quercus ilex L.)
– pinhais: pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e pinheiro-manso (Pinus pinea)
– eucaliptais (Eucalyptus spp.)
– folhosas caducifólias: carvalhos (Quercus spp.) e castanheiros (Castanea spp.), entre outras espécies florestais.
Mais metade da floresta portuguesa é ocupada por espécies folhosas perenifólias e por pinhais. Juntos, representam 63% da área florestal de Portugal Continental. Os dados são referentes a 2015 e constam do Relatório Completo do 6.º Inventário Florestal Nacional (IFN6) do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), divulgado em novembro de 2019.
As folhosas perenifólias correspondem a um terço de área florestal (34%), com os montados (sobro e azinho) a ocupar cerca de um milhão de hectares, no levantamento de 2015. Seguem-se os pinhais, com uma área também próxima do milhão de hectares (959 mil ha), o que equivale a 30% do total de floresta. Este é o ecossistema florestal com maior redução de área nas últimas décadas, em particular devido aos incêndios e às pragas que têm afetado o pinheiro-bravo.
O terceiro grupo florestal mais representativo é o dos eucaliptais, que representam 26% da área florestal (845 mil hectares), reflexo da tendência de incremento registada nos últimos 50 anos.
Também em rota de crescimento estão as espécies folhosas caducifólias. Embora sejam a formação florestal com menor expressão (10% da área florestal, 320 mil ha), o aumento destes povoamentos tem sido sistemático nas últimas duas décadas e acontece de forma mais significativa desde 2005.
Ainda de acordo com o IFN6, a maioria da floresta continental (72%) é composta por espécies autóctones, como o sobreiro, a azinheira, o pinheiro-bravo, o pinheiro-manso e os carvalhos.
De relembrar que o mosaico florestal atual reflete, em grande parte, os esforços de reflorestação do século XX. A floresta portuguesa aumentou, até aos anos 70, sobretudo devido aos pinheiros, sobreiro e azinheira, enquanto que o contributo do eucalipto para a extensão das áreas florestais foi mais tardio, a partir dos anos 50.
Aumento da área de outras espécies florestais reforça variedade
Quando o foco são as espécies florestais, são três as que se destacam em Portugal Continental: eucalipto (Eucalyptus globulus Labill.), sobreiro (Quercus suber L.) e pinheiro-bravo (Pinus pinaster). Segundo o IFN6, estas espécies ocupam, em conjunto, 71% da área florestal total.
O eucalipto ocupa maior área florestal (26%, correspondente a 845 mil ha) e é seguido de perto pelo sobreiro e pelo pinheiro-bravo. Cada uma destas espécies representa 22% da floresta (720 mil ha e 713 mil ha, respetivamente).
Segundo os dados do IFN6, o pinheiro-bravo é a espécie com maior declínio nas últimas décadas, com uma quebra de 85 mil hectares entre 2005 e 2015. Numa análise temporal mais alargada, esta espécie perdeu 265 mil hectares de 1995 a 2015.
Outras espécies florestais aumentaram a sua expressão desde 2005, de acordo com a informação do IFN6: o pinheiro-manso (+21 mil ha), o carvalho (+15 mil ha), a azinheira (+14 mil ha) e o castanheiro (+10 mil ha) são algumas das espécies que expandiram a sua área.
A par do IFN6, a Carta de Uso e Ocupação do Solo de Portugal Continental de 2018 (COS2018), produzida pela Direção-Geral do Território, também fornece dados oficiais sobre a floresta portuguesa, para o mesmo ano de referência. Uma vez que os dois levantamentos usam indicadores e metodologias diferentes, os valores apresentados acabam também por ser algo distintos. De acordo com o COS2018, as florestas de pinheiro-bravo predominam na ocupação do solo (1,02 milhões de hectares, 29% do total da área florestal), seguindo-se os eucaliptais (928 mil hectares, 27%) e os montados de sobro (614 mil hectares, 18%).
Os dados reforçam a variedade como uma das características da floresta portuguesa, sobretudo quando comparada com outros países da Europa. Em Portugal, nenhuma espécie florestal chega, isoladamente, a ocupar um terço na floresta. Na Finlândia, por exemplo, o pinheiro-silvestre ou de casquinha (Pinus sylvestris) ocupa cerca de 67% da área florestal. Na Áustria, o abeto (Picea abies – falso abeto, picea europeia, espruce europeu) é dominante, com cerca de 60% da área.
Cerca de 33% das florestas da Europa são dominadas por uma única espécie florestal (sobretudo coníferas, que ocupam 46% das florestas europeias), embora estas tenham vindo a tornar-se cada vez mais diversas em termos de espécie, como indica o State of Europe’s Forests 2020. Os restantes 67% são florestas dominadas por duas ou mais espécies florestais, contribuindo para a diversidade biológica nos ecossistemas florestais.
Refira-se que a distribuição de espécies florestais na Europa varia, naturalmente, em função do clima e solo, entre outros fatores biológicos e de ação humana. É por isso natural verificar-se uma grande heterogeneidade entre os povoamentos do sul mediterrânico e norte do continente europeu, como confirma o mapa da distribuição de espécies, divulgado pela Alterra / Wageningen University, em parceria com o EFI – European Forest Institute.
Sobreiro pode ser a espécie “campeã” de 2019
Apesar de documentar o estado da floresta em 2015, o IFN6 permite também fazer uma projeção aproximada da área que cada espécie poderá ocupar em 2019, a partir das estimativas de áreas ardidas entre 2016 e 2018, incluídas no relatório. Seguindo essas estimativas, o sobreiro poderá tornar-se a espécie com maior área em 2019, seguindo-se o eucalipto e o pinheiro-bravo. A avaliação não tem em conta, no entanto, outras dinâmicas dos ecossistemas florestais. O levantamento para o 7.º Inventário Florestal Nacional começa em 2020.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.