Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a grande maioria das abelhas não vivem em sociedade ou em colónias com rainhas e operárias. A maioria das abelhas são solitárias, isto é, vivem sozinhas.
Individualmente, cada fêmea constrói e cuida do seu próprio ninho. O material utilizado para a construção dos ninhos varia dependendo da espécie, mas podem ser areia, terra, barro, pedaços de folhas ou restos vegetais, óleos florais e resina, entre outros.
Durante o seu ciclo de vida, procuram o local para construir o ninho, colocam os ovos, procuram alimento para a cria e defendem o ninho quando necessário. Em algumas espécies, a fêmea morre antes da cria nascer e, em outras espécies, chegam a dividir o ninho por um breve período.
A fêmea, ao nascer, é imediatamente fecundada e procura logo um local para nidificar. Este local pode ser uma zona exposta ao sol, seja em caminhos erodidos ou em barrancos, troncos de madeira, fendas em muros e orifícios pré-existentes, a exemplo de canos, tijolos, etc.
O tempo total de desenvolvimento varia de espécie para espécie e depende dos fatores climáticos, da região de ocorrência da espécie e do número de gerações que a espécie produz em um ano.
Os machos das abelhas solitárias possuem um período de desenvolvimento mais curto e nascem alguns dias antes das fêmeas. Logo após o nascimento estão prontos para acasalar e é comum observar numerosos machos voando freneticamente ao redor do local dos ninhos, à espera da eclosão das fêmeas virgens ou nas fontes de alimento preferido das fêmeas.
Na ilha da Madeira e de Porto Santo é comum serem observadas muitas espécies de abelhas solitárias, entre elas uma subespécie endémica, a Amegilla quadrifasciata maderae. É uma espécie de abelha típica de vegetação seca e sub-húmida, sendo que já foram observadas a altitudes mais elevadas. As zonas costeiras onde predominam o conhecido Massaroco (Echium nervosum) são os habitats mais típicos desta espécie, por representarem um importante recurso de pólen e néctar.
O voo rápido, a aproximação regular de plantas com uma única flor e o seu pairar em frente às flores são notáveis nesta espécie. Os machos patrulham as flores e locais de nidificação em busca de fêmeas. As fêmeas são maiores e mais escuras e o macho tem a fronte branca.
Esta subespécie Amegilla quadrifasciata maderae voa durante todo o ano, sendo que, em estudos anteriores, não foram observadas nos meses de outubro e novembro, provavelmente devido à falta de atividade de recolha de pólen.
Atualmente, esta subespécie tem sido observada em alguns locais na Costa Sul da Madeira, mais precisamente entre o Funchal e o Caniço. São encontradas em canteiros, terrenos extremamente secos e até em passeios públicos. A sua presença poderá dever-se às alterações climáticas, nomeadamente o aumento de temperatura e diminuição de precipitação nesta altura do ano.
As abelhas solitárias não produzem mel, mas nem por isso deixam de ter um papel importantíssimo para o meio ambiente e para a agricultura, pois são polinizadores muito ativos, garantindo deste modo a variabilidade genética dos vegetais e a formação de bons frutos.
Artigo publicado originalmente em DICAs.