A floresta é um interveniente ativo no ciclo hidrológico. Da água que as árvores absorvem a nível radicular, grande parte (mais de 95%) é libertada para a atmosfera através da transpiração, contribuindo para o arrefecimento e humidade do ar, para a melhoria da qualidade da água e para a precipitação. Diversos estudos realizados nos últimos quinze anos estimaram que a evapotranspiração florestal (ou seja, a devolução da água para a atmosfera através da transpiração das plantas, das perdas por interceção das folhas e pela evaporação do solo) está na origem de, pelo menos, 40% da precipitação que ocorre na parte continental do planeta.
Ao mesmo tempo que, à escala local ao nível da bacia hidrográfica, as florestas fornecem também outros serviços, que passam pela promoção da infiltração da água no solo e a regulação do caudal dos cursos de água – minimizando o risco de ocorrência de pequenas e médias cheias e protegendo o solo da erosão.
Assim, analisar as florestas, em particular as de produção, apenas sob a perspetiva da utilização de água, é menosprezar a sua contribuição para a regulação climática e para o equilíbrio dos ecossistemas.
A título de exemplo, um estudo de 2010, intitulado “A silvicultura e a água: ciência, dogmas, desafios”, demonstrou que o uso de água pelas plantações florestais pouco difere do uso pelas florestas naturais, verificando-se um aumento do escoamento superficial no momento da exploração do povoamento, tendendo a ser reestabelecida a estabilidade hidrológica com o novo ciclo de crescimento, poucos anos após o corte. Tal tendência é também suportada por outros estudos.
Menos água, a mesma produção de madeira
A água utilizada pelas plantas está associada à fotossíntese e, como tal, maiores taxas de transpiração estão associadas a uma maior produção de biomassa e a um crescimento mais rápido, como acontece com o eucalipto. No entanto, esta árvore “não requer, de modo geral, mais água por quantidade de biomassa produzida do que outras espécies, o que se traduz numa eficiência superior no uso deste recurso”, pode ler-se no artigo “As plantações de eucalipto e os recursos naturais em Portugal: avanços recentes e desafios para o futuro”, publicado na revista científica Silva Lusitana. O maior ou menor uso de água pelas árvores e povoamentos florestais está diretamente relacionado com a disponibilidade de água local, densidade do povoamento e área foliar, produção de biomassa e produtividade, e ciclo de crescimento.
Em 2021, e mais uma vez a título de exemplo, o estudo “Processos hidrológicos em bacias hidrográficas florestadas por eucalipto e pinheiro na região mediterrânica”, concluiu que a evapotranspiração “média anual do pinheiro (907 mm) foi mais alta que a do eucalipto (739 mm), revelando que as plantações maduras de pinheiro levam a um uso mais elevado de água do que os povoamentos de eucalipto”.
Para esta eficiência, ou seja, um menor uso de água por cada metro cúbico de madeira produzido, os estudos revelam a contribuição de algumas características morfológicas, anatómicas e fisiológicas do eucalipto. Entre estas encontram-se a sua capacidade de formar a copa num curto espaço de tempo; o controlo da perda de água por transpiração através do fecho progressivo dos estomas nos períodos de maior restrição hídrica; as folhas pendentes que favorecem a oscilação com o movimento do ar e permitem evitar o calor excessivo sem utilizar muita água; e a cutícula foliar cerosa que possibilita uma menor evaporação de copa e uma menor interceção da precipitação, o que potencia uma maior infiltração. Também o risco de erosão hídrica do solo após o corte será menor em espécies cujas raízes se mantêm viáveis depois desta operação, podendo ser conduzidas em talhadia, como é o caso do eucaliptal, contrastando com outras espécies florestais plantadas.
Em situações de restrição hídrica, a eficiência do eucalipto é ainda maior, de acordo com o analisado em plantações de Eucalyptus globulus na região Centro de Portugal e em povoamentos de outros eucaliptos em França. Isto significa que a espécie consegue sobreviver e proporcionar rentabilidade económica aos proprietários de terrenos florestais em zonas onde outras árvores poderão não ter potencial de crescimento.
Artigo publicado originalmente na revista n.º 14, de junho de 2024, que pode descarregar aqui.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.