As Associações representantes da produção de cereais (cereais praganosos, milho e arroz) alertam para uma situação de emergência no sector dos cereais, resultado da queda abrupta dos preços à produção provocada não só pela entrada massiva de grão importado de países terceiros, como também do aumento dos custos de produção.
Nos últimos 6 anos, desde a campanha 2020, os custos médios aumentaram cerca de 55% enquanto o cereal valorizou apenas 20%.
Esta concorrência desleal está a colocar em risco centenas de explorações e a ameaçar um sector considerado estratégico para a soberania alimentar nacional. Os agricultores portugueses são obrigados a cumprir regras ambientais, fitossanitárias e laborais muito exigentes, enquanto nos portos entram cereais produzidos em países com critérios muito menos rigorosos. Não há igualdade de condições!
Perante este cenário, cresce o sentimento de revolta no terreno e multiplicam-se os agricultores que ponderam não avançar com as sementeiras na próxima campanha, uma vez que os custos de produção já não encontram correspondência no preço pago.
«As contas não fecham e trabalhar no vermelho deixou de ser sustentável», alertam.
Medidas urgentes exigem-se!
É urgente uma resposta imediata do Governo português e da União Europeia, exigindo medidas concretas:
• Implementação imediata da Estratégia +Cereais, colocando no terreno todas as dezassete medidas aí previstas;
• Futura PAC com orçamento reforçado e ajustado à inflação, que preserve a sua natureza comum e os dois pilares, assegure apoios integrais, distribua recursos de forma justa entre países, e seja flexível face às realidades do Sul da Europa, com participação efectiva dos agricultores;
• Actualização dos Preços de Intervenção para os Cereais recalculando-os face aos custos actuais, que nada têm a ver com os que eram praticados em 2001/2002, altura em que o Preço de Intervenção foi definido nos 101,31€/tonelada;
• Criação de um programa de apoio excepcional ao sector cerealífero português, à semelhança do que a Comissão Europeia já aplicou em 2023 em países da Europa Central e de Leste, igualmente afectados pelas importações de países terceiros (Ucrânia);
• Introdução de um apoio de emergência, a vigorar na actual campanha de comercialização 2025/26, de 25€ por tonelada para os cereais que sejam comercializados via Organização de Produtores;
• Controlo rigoroso nos portos e fronteiras, com reforço dos serviços de inspecção, para garantir que o cereal importado cumpre com os mesmos padrões sanitários exigidos à produção nacional.
Um sector estratégico em perigo
A produção de cereais em Portugal não é apenas uma actividade económica: «Está em causa a preservação de solos agrícolas, a fixação de população no interior, o combate à desertificação, a manutenção da biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas, e a redução da dependência externa em bens alimentares básicos».
O sector dos cereais em Portugal ocupa uma área que ronda os 250 mil hectares e está presente em cerca de 95 mil explorações agrícolas distribuídas de Norte a Sul do país.
Sem uma intervenção rápida e determinada, o país arrisca-se a assistir ao colapso de um sector vital para o equilíbrio do território e para a segurança alimentar das próximas gerações.
Fonte: ANPOC, ANPROMIS e AOP