Nos últimos anos, a sustentabilidade e a saúde tornaram-se prioridades nas escolhas dos consumidores, transformando profundamente a indústria alimentar e (re)descobrindo novos ingredientes. Mais do que uma tendência, as algas – micro e macro – oferecem um perfil nutricional fascinante, sendo ricas em proteínas de alta qualidade, ácidos gordos essenciais como o ómega-3, e uma vasta gama de vitaminas e minerais, e estão a afirmar-se como verdadeiros super ingredientes do futuro. Mas o que as torna ainda mais especiais é o seu alinhamento com os princípios de menor interferência ambiental nos processos produtivos: crescem rapidamente, não exigem terra arável, e ajudam a preservar a biodiversidade marinha.
A conveniência é outro fator essencial. Numa sociedade acelerada, os consumidores valorizam tudo o que for rápido, fácil de preparar e pronto a consumir.
Os alimentos à base de algas que respondam a estas exigências têm um lugar garantido nas rotinas diárias de quem procura saúde sem abdicar de praticidade. Alinhadas com os valores da sustentabilidade, nutrição e versatilidade, as algas estão a conquistar (o seu) espaço nas prateleiras e nos pratos, em todo o mundo.
A procura por alimentos de origem vegetal impulsionou o surgimento de uma nova geração de produtos à base de algas, que vão desde snacks e bebidas funcionais a substitutos de carne. Segundo dados da Innova Market Insights, entre janeiro de 2020 e dezembro de 2024, o mercado das algas tem sido dinâmico. A forma como os ingredientes são rotulados tem um impacto direto na interpretação dos dados da análise de mercado e, por vezes, pode até gerar alguma confusão. Embora a maioria dos produtos indique de forma genérica a presença de “algas”, a realidade é mais complexa.
Ingredientes como kelp, alga vermelha, extrato de kelp, fucus e extrato de alga vermelha são todos variações que, na prática, correspondem a algas marinhas. No entanto, aparecem por vezes listados de forma separada ou ambígua, o que pode distorcer a análise de mercado. O verdadeiro espaço que as algas estão a ganhar na prateleira é difícil contabilizar na sua totalidade, sendo importante olhar além dos nomes nos rótulos e ter uma abordagem mais holística!
A Europa Ocidental lidera o número de lançamentos, com 81% dos lançamentos, com a França na linha da frente com uma quota de 15,9% do mercado europeu. As categorias tradicionais como “Lacticínios” e “Bebés e Crianças” sofreram retração no número de novos lançamentos, enquanto as “Refeições Prontas”, como as saladas e preparados de arroz/massa com proteína de origem vegetal, e os “Análogos de Carne”, como hambúrgueres e almôndegas, estão em pleno crescimento, revelando uma mudança nas preferências do consumidor.
A preocupação ambiental, expressa em alegações como “Ética – Ambiente”, reforça ainda mais o apelo das algas. As algas criam habitats que favorecem uma grande diversidade de espécies, promovendo a biodiversidade. Têm a capacidade de fixar carbono, ajudando a mitigar a acidificação dos oceanos e a reduzir a pegada de carbono. Além disso, melhoram a qualidade da água ao absorverem nutrientes em excesso, como o azoto, o que as torna especialmente relevantes para um público cada vez mais consciente do impacto ambiental das suas escolhas.
Os produtos à base de algas têm apostado em embalagens que minimizem o impacto ambiental ao longo de todo o seu ciclo de vida, apostando em embalagens fáceis de reciclar, produzidas a partir de materiais reciclados, ou até mesmo com matérias-primas biodegradáveis ou compostáveis. Quando alinhada com os valores ecológicos do produto, a embalagem pode ser decisiva para conquistar o consumidor moderno, que procura marcas com propósito. E, claro, a tendência do bem-estar continua a dominar.
As alegações “Vegan”, “Sem Glúten”, “Fonte de Proteína” e “Biológico” estão em alta, e os produtos com algas estão perfeitamente posicionados para responder a esse desejo de comer melhor, com mais consciência e menos culpa.
Em resumo, o mercado dos produtos com algas está a evoluir, diversificar-se e adaptar-se rapidamente. Apesar de alguns desafios em segmentos específicos, o panorama geral é promissor. As palavras de ordem? Sustentabilidade, conveniência e inovação.
Num mundo em constante mudança, as algas estão a provar que são muito mais do que uma moda passageira — são um dos sabores do futuro.
Dalila Vieira
Sr. Researcher, Colab4Food – Laboratório Colaborativo para a Inovação da Indústria Agroalimentar