A Conqueiros Invest é uma exploração agropecuária familiar com vários pólos no Alentejo, mas familiar só mesmo pelo facto de estar na mesma família há muitos anos porque a agricultura que ali se pratica insere-se nas categorias de topo na aplicação de ferramentas digitais. Mas já lá vamos.
A Herdade de Conqueiros, pertença da família de Rui Veríssimo Batista há muitos anos, conta com cerca de mil hectares e tem por vocação a produção de cereais de regadio. Neste momento produz 450 hectares de milho e 25 de arroz (inseridos na zona de produção do Vale do Sado). O gestor da Conqueiros Invest explica-nos que há cerca de um ano deu início à alteração de algumas zonas de produção para a cultura do olival, tendo já 140 hectares plantados, encontrando-se em fase final um estudo para a introdução de 80 hectares de amendoal, no sentido de aproveitar as áreas sobrantes. “É uma estratégia para aproveitar os terrenos não tão indicados para os cereais e ao mesmo tempo diversificar as culturas da exploração”, remata. E aqui já começamos a perceber que não estamos a falar de um modelo de negócio tradicional.
Ainda na Herdade “mãe” contam-se cerca de quatro centenas de vacas em regime extensivo, para produção de carne, que em parte se alimentam dos restolhos de milho. Há uns dois anos iniciou-se outro projeto que prevê um balanço energético zero, com a energia fotovoltaica produzida (já são cinco estações) a compensar os gastos energéticos da exploração.
A empresa compreende ainda outras duas unidades produtivas, uma na zona de Torrão (Alcácer do Sal) com cerca de 450 hectares e a segunda, perto de Beja, com 120.
Mas concentremos na produção de milho, que é de longe a mais expressiva para esta empresa. No total são 620 hectares, cultivados anualmente entre as três unidades de produção. É particularmente nesta cultura que a Conqueiros Invest se socorre de um variado leque de ferramentas de agricultura de precisão, como sondas de rega, imagens de satélite, georreferenciação das operações, mapeamentos (…). Para isso obviamente trabalha com diversos parceiros numa relação que Rui Veríssimo prefere chamar de amizade e confiança, muito para lá dos negócios, “que assim são mais fáceis de concretizar”. A Dekalb é um desses parceiros, numa relação que tem vindo a estreitar-se nos últimos anos, porque além de ser um fornecedor, “presta apoio, os técnicos aconselham, fazem testes de variedades (…)”, explica o empresário.
Esta parceria começa nas variedades de milho que a Dekalb apresentou à Conqueiros Invest e que esta testou, aprovou e passou a utilizar e na última campanha os três pivots de 120 hectares junto a Beja foram todos semeados com variedades Delkab de ciclo 600. Rui Veríssimo continua a acreditar nas variedades deste ciclo (mais longo) mas admite que as de ciclo 500 podem parecer mais interessantes se se tiver em conta o preço a que está o milho quando, em contrapartida, o preço da secagem não baixa.
Na Herdade as produções de ciclo 600 continuam a ser mais altas, embora com noção de que o ciclo 500 também reduz o risco na colheita e pode tornar-se mais aliciante tendo em conta a alteração do padrão climático. Perante estes factos na Conqueiros Invest já se pensa na possibilidade de fazer 3 culturas em 2 anos (até para combater a monocultura) e aí “é provável que seja mais vantajoso utilizar as variedades de ciclo 500 ou até 400 para depois ser possível uma nova cultura”.
Ainda nesta dicotomia e tendo por base a sua experiência, na opinião de Rui Veríssimo, outro ponto de interesse das variedades de milho de ciclo 600 e para o qual a Conqueiros Invest vai avançar já este ano é fazer transferência para uma agricultura de conservação, que permita aumentar os níveis de matéria orgânica no solo, melhorar a gestão da água do solo (…) e permitir a antecipação das sementeiras devido à melhoria da transitabilidade do solo.
“Se o potencial genético não tivesse aumentado, o milho hoje não seria competitivo”
Olhando para o ano agrícola, o gestor da Conqueiros Invest aponta para o registo de temperaturas muito baixas quando já não seria expectável (junho), “mas curiosamente as produções a não serem muito penalizadas. Sem uma explicação completamente científica, significa que o potencial produtivo dos milhos tem vindo a crescer, com a genética a “marcar pontos”. Aliás, Rui Veríssimo reconhece que se esse potencial genético não tivesse aumentado, o milho hoje não seria competitivo e repete que “o preço é baixo e é uma cultura sem “elasticidade” em relação aos custos, porque esses são fixos”. Todavia, e a frase é sua, “ainda não há nenhuma cultura anual que consiga competir em escala com o milho”.
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 231 (novembro 2019)