Ao longo do século XX a agricultura portuguesa passou por diversas vicissitudes.
Até ao início da revolução industrial a agricultura era a principal atividade produtiva e o grande suporte da sobrevivência dos povos. Sempre com intenção de a defender os agricultores criaram cooperativas e outros organismos de caracter coletivo.
Passou do arado de pau puxado por animais para as máquinas telecomandadas altamente sofisticadas. Apesar das grandes evoluções tecnológicas no pós 25 de Abril de 1974, a agricultura continua a ser o parente pobre. Tantas autoestradas, tantas pontes e acessibilidades diversas, pagas pelos fundos de coesão da UE e os caminhos agrícolas, no Concelho do Fundão, muitos deles, continuam como no tempo dos carros de bois. Há propriedades inseridas no perímetro de rega da Cova da Beira, onde os comerciantes se recusam a recolher a produção de milho, de leite, etc porque os caminhos públicos não estão transitáveis.
Na primeira metade do seculo XX, a produção baseava se na agricultura extensiva, principalmente nos cereais de sequeiro e pecuária, com formas rudimentares de mobilizar e cultivar a terra, com muito esforço humano, a força de tração animal, com alfaias do tempo dos Árabes, como eram os arados e carros feitos de madeira, assim como a rega através da nora e da picota.
Os Agricultores criaram diversos organismos, federação dos produtores de trigo, (FNPT) cooperativas de frutas e legumes, adegas cooperativas, lagares cooperativos, cooperativas de queijos, mútuas de gado, mútuas de seguros, cooperativas de crédito (caixas de crédito agrícolas mútuo), a fim de coletivamente concentrarem a oferta dos seus produtos e assim obterem melhores resultados e melhorarem a sua condição de vida e contribuir para o desenvolvimento económico do sector.
Importa aqui refletir o que foi feito destes organismos, que os agricultores criaram com tanto esforço pessoal e coletivo, mas entenderam que seria a forma de se defenderem e conseguirem vender os seus produtos a um preço justo, que compensasse o seu enorme esforço:
1– Federação Nacional de Produtores de Trigo (FNPT): Nascida em 1932 como uma espécie de sindicato dos produtores trigueiros, organismo representativo dos produtores de cereais, depois transformou-se em Instituto Público e depois de ter passado por várias metamorfoses, em Empresa Pública, após o 25 de Abril e mais tarde, foi vendida a empresas privadas e os agricultores que tanto dinheiro descontaram, no ato da entrega dos cereais, ficaram a ver navios
2 — As cooperativas foram vítimas das lutas partidárias, principalmente da direita que tem uma aversão a tudo o que são organizações coletivas de caracter económico, aos poucos foram fechando e incentivando organismos privados paralelos e assim o cooperativismo está profundamente diminuído e os agricultores ficaram a ver navios.
3–No início da 1ª República o governo provisório de Teófilo Braga aprovou o Dec-Lei que permitia a organização do Crédito Agrícola sobre a forma de cooperativas de crédito agrícola mútuo, cujo conteúdo perdurou até 1982. Ao longo desses anos grupos de Agricultores Honrados constituíram por todo o país cooperativas de crédito, com os valores que lhe estão subjacentes, mutualistas , imbuídos dos princípios de solidariedade e convencidos que deste modo poderiam financiar- se a taxas mais favoráveis na sua cooperativa, com valores profundamente diferenciadores da banca universal que visam, naturalmente , exclusivamente o lucro Nos fins dos anos 90 e primeira década dos anos 2000, debaixo da capa de cooperativas , transformaram o credito agrícola em bancos universais, embora ainda lhe chamem cooperativas de crédito com os estatutos convenientemente e ilegalmente blindados para se perpetuarem na direção até á velhice.
Mais uma vez os agricultores ficaram a ver navios, isto é, sofreram mais uma deceção.
Empresário Agrícola e Presidente da ADACB