Consideramos que é necessário actuar, designadamente com sabedoria e recursos públicos, para evitar que se repitam tragédias e desastres brutais como aqueles que aconteceram em 2017 com os Incêndios Florestais / Rurais.
Para isso, é indispensável atacar as causas mais profundas dos Incêndios Florestais que radicam na ruína da Agricultura Familiar e do Mundo Rural e na ruína da Floresta Multifuncional em consequência directa das más políticas definidas e aplicadas pela PAC, Política Agrícola Comum, e por políticas de matriz mais nacional. E, ao mesmo tempo, é preciso dar combate institucional, a nível dos vários Órgãos de Soberania, aos continuadamente baixos Preços da Madeira na Produção impostos pela grande Indústria de Transformação de Madeiras durante décadas seguidas.
Portanto, pelo menos do nosso País, no centro das prioridades das políticas oficiais é necessário colocar a mudança das políticas agro-rurais e agro-florestais aplicadas, o que também implica vontade e coragem políticas da parte dos Governantes.
Mudança que exige e de entre outras opções estratégicas:
— Aumento dos apoios públicos prioritariamente para a Agricultura Familiar também com o objectivo de lhe assegurar escoamento e melhores Preços à Produção como condições incontornáveis à fixação das Populações Rurais.
— Dar prioridade à organização da Floresta Multifuncional, aquele tipo de Floresta que, para além dos materiais lenhosos, também produz ou resguarda bens e serviços públicos como ambiente, ecossistemas, água, solos, espécies tradicionais, silvopastorícia, etc.
— Promover o correcto Ordenamento Florestal com ciência e sabedoria, por exemplo, impedindo o plantio de milhares de hectares seguidos com árvores altamente combustíveis como de facto são o Eucalipto e o Pinheiro.
— Apoiar e ordenar a Prevenção de Incêndios todo o ano e todos os anos, sempre em respeito pelos direitos e interesses dos pequenos e médios Produtores Florestais.
— Aumentando o Investimento Público e activando os Serviços Públicos vocacionados para garantir, no terreno, condições à correcta produção florestal e de forma regionalizada.
— Regular o sistema de formação de Preços da Madeira na Produção por forma a assegurar o aumento geral e significativo desses Preços da Madeira na Produção e, em consequência, o aumento dos rendimentos dos Produtores Florestas por essa via estruturante.
Parques de Armazenagem de Madeira Ardida – “Salvada” – dos Incêndios
São “muito fumo para pouco lenho”…
O Ministro da Agricultura repete e repete que, através da iniciativa do seu Ministério, estão criados vários Parques (privados) de Armazenagem de Madeira ardida – para Serração e Trituração – nas condições definidas pelo próprio Ministério da Agricultura, as quais, supostamente, exigem Preços garantidos à Produção, ao alto na Mata e à entrada desses Parques (privados) de Armazenagem de Madeira.
O problema, é que não se sabe onde estão tais Parques de facto a funcionar segundo tais condições, sendo que, entretanto, sobretudo o Pinhal está a apodrecer na esmagadora parte dos terrenos percorridos pelos Incêndios de 2017.
Ou seja, e tal como a CNA cedo reclamou, é necessário criar – mas à directa responsabilidade do Ministério da Agricultura e do Governo – Parques de Recepção e Comercialização das Madeiras ardidas – “salvadas”. Devem ser Parques Públicos – numerosos e disseminados pelos territórios — que, de facto, assegurem a retirada significativa e minimamente recompensadora, para os Proprietários / Produtores, das árvores ardidas. Para, também assim, se defender o Ambiente e evitar a propagação de pragas e doenças da Floresta a áreas não ardidas.
Mas, até agora, o Ministro da Agricultura tem feito orelhas moucas a esta nossa justa reclamação, enquanto se fixa na propaganda dos “milhões” alegadamente atribuídos aos lesados dos Incêndios.
Sim, os Agricultores e Produtores Florestais são vítimas dos Incêndios !
Não são os culpados .
27 de Maio de 2018
João Dinis
– Pequeno Produtor Florestal lesado pelos Incêndios de Outubro.
– Membro do “Grupo Céus Limpos”
– Membro da Direcção da CNA, Confederação Nacional da Agricultura