O secretário Regional da Agricultura e Florestas manifestou confiança na certificação europeia da carne Ramo Grande, a única raça autóctone dos Açores, como Denominação de Origem Protegida (DOP), que entra agora em fase de consulta pública.
“A Denominação de Origem Protegida está associada à política de qualidade alimentar da União Europeia e visa proteger os nomes dos produtos, de modo a salvaguardar as suas características únicas, vinculadas à sua origem geográfica, sendo que esse rótulo permitirá aos consumidores aumentar a confiança no produto, em termos de segurança alimentar, e distinguir a sua qualidade, contribuindo para valorizar melhor a produção”, afirmou João Ponte, acrescentando que “está em causa uma carne tenra, suculenta, que tem sido aprimorada ao longo de várias gerações”.Foto: Ramogrande
Abertura da fase de consulta pública nacional
Hoje foi publicada em Jornal Oficial, através do Instituto de Alimentação e Mercados Agrícolas (IAMA), a abertura da fase de consulta pública nacional, durante 30 dias, no âmbito do registo da Carne Ramo Grande DOP apresentado pela Associação de Criadores de Bovinos da Raça Ramo Grande, na sua qualidade de Agrupamento Gestor.
Quando terminar o prazo da consulta pública do pedido de registo, e no pressuposto de não haver qualquer manifestação de oposição, inicia-se uma nova etapa, ou seja, o envio do processo à Direcção Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural, que, por sua vez, remeterá à Comissão Europeia, adiantou João Ponte.
Para o secretário Regional, esta certificação assegurará também novas oportunidades de negócio para o sector da carne nos Açores, para a sua valorização, contribuindo directamente para o crescimento da economia local.
Estão inscritos actualmente no Livro de Adultos desta raça 1.407 bovinos, distribuídos pelas ilhas Terceira, São Jorge, Faial, Pico, São Miguel e Graciosa, existindo, no total, 261 criadores da raça Ramo Grande nos Açores.
Além da certificação da Carne Ramo Grande e da Manteiga DOP, os Açores têm em fase de registo o Alho da Graciosa como IGP e está a decorrer o processo de certificação da Banana dos Açores como IGP.
Carne Ramo Grande
Ramo Grande é a designação comum da zona nordeste da Ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores, conhecida como sendo uma região plana, bastante fértil onde existiam boas pastagens, abundância de milho e magníficos campos de luzerna, e também dos bovinos vermelhos e corpulentos que lá se desenvolveram.
Leitão et al. (1943) em visita efectuada à ilha, para além de considerarem que esta zona apresenta um clima mais favorável que o continental e o solo de mais fácil exploração, fazem referência a aspectos relacionados com a morfologia dos animais mencionando que, apresentavam como característica primordial, a enorme corpulência, um crescimento que se prolonga até aos 8 anos e mais de idade; chegam a atingir 1,70 m de altura na cernelha e 2,30 m de perímetro torácico. Os membros têm boas articulações, que terminam por unhas afogueadas e resistentes, o que lhes permite trabalhar desferrados em calçada.
De acordo com Bettencourt (1923), o gado bovino da Ilha Terceira resulta na sua maioria do cruzamento de indivíduos pertencentes aos troncos Aquitânico e Ibérico, isto é, do gado Minhoto ou Transtagano ou dos dois, com o gado Mirandês. Por sua vez, Medeiros (1978) afirma que, apenas na Ilha Terceira, havia um grupo de bovinos de grande corpulência e de óptimas qualidades de trabalho, do tipo alentejano, e que eram conhecidos por bovinos do “Ramo Grande”.
O reconhecimento da importância histórica e cultural do gado Ramo Grande e a percepção de que estava em risco de perder-se definitivamente o reduzido censo que restava levou a que na década de 1990 ressurgisse o interesse por este gado e fossem efectuados os primeiros trabalhos de levantamento e caracterização que viriam a culminar com a instituição do Registo Zootécnico da raça em 1996.
Actualmente, a raça Ramo Grande está reconhecida, a nível internacional, pela União Europeia, pela FAO e encontra-se descrita na lista dos Recursos Genéticos Animais a nível mundial.
Agricultura e Mar Actual