Se um produto fresco e perecível viesse com um código de barras com informações sobre o produtor, os agro-químicos usados, o solo em que cresceu e a data de colheita, isso pesaria a favor da sua escolha? Segundo um texto divulgado na publicação online Dirt to Dinner e partilhado pelo CiB – Centro de Informação de Biotecnologia, a resposta é “sim”. Os produtos vendidos ‘com história’ aumentam as possibilidades de escoamento.
O autor escreve sobre as novas tecnologias que estão a ser desenvolvidas para uma maior transparência na cadeia alimentar e agrícola, elaborando, de uma forma clara e extensa, sobre o poder impactante que a informação sobre a origem de um produto tem nos consumidores no momento de comprar. Membro da Produce Marketing Association, Richard Owen trabalha na indústria agrícola há mais de 30 anos, mas foi só há dez, depois de entrar no sector de produtos frescos altamente perecíveis, que se apercebeu do quão complicada e poderosa pode ser a transparência na cadeia de abastecimento de alimentos.
Saber quem produziu o quilo de pêras, o pé de alface ou o saco de feijão, em que tipo de solos cresceram, que pesticidas e herbicidas foram usados, quando foram colhidos, é informação extra cada vez mais tida em conta pelos consumidores que se preocupam com o que comem.
Esse é precisamente o foco das duas empresas norte-americanas referidas como exemplos no texto: a Safetraces e a HarvestMark. Estão ambas empenhadas na criação de ferramentas que permitem contar tudo o que é possível sobre a produção e o percurso dos alimentos comercializados, neste caso frutos e vegetais.
A solução apresentada pela Safetrace foi o desenvolvimento de “códigos de barras de DNA que podem ser adicionados a frutas e vegetais através de um spray líquido ou uma cera”. Para criar uma solução pulverizável, inodora, insípida e sem riscos de segurança alimentar, os investigadores misturaram açúcar com um pouco de DNA sintético de algas marinhas, por exemplo. Vantagem: «se surgir um problema com o produto, pode-se esfregar o DNA na superfície e identificá-lo em minutos». Colocar o código de barras do DNA directamente em produtos frescos reduz significativamente o potencial de perda de informações de rastreio no caso de ser detectado algum problema de segurança alimentar. Este aspecto assume particular relevância quando, como muitas vezes acontece, as caixas utilizadas para acondicionar os produtos (e que contêm essas informações) são descartadas muito antes dos problemas serem detectados.
A solução que a empresa de software HarvestMark, em parceria com a iFood Decision Sciences, está a tentar criar vai permitir aos consumidores conhecer todas as etapas da cadeia de abastecimento, dar o seu feedback sobre o produto e recompensar as marcas que consideram que estão a trabalhar melhor para a transparência. Para o produtor também há vantagens. Além de um pequeno relatório de análise e de qualidade, como controle de temperatura, monitorização do stock e notificações de fornecedores, o sistema de rastreabilidade da HarvestMark fornece ao produtor um mecanismo de alerta em caso de incidente de segurança alimentar.
Conhecendo o desempenho de um produto nas prateleiras de supermercado, o produtor pode tomar decisões de produção de curto e longo prazo.
Segundo Richard Owen, é na integração do feedback do consumidor e da análise da cadeia de abastecimento que reside o verdadeiro poder da tecnologia HarvestMark. Exemplifica: «Uma variedade de framboesa altamente perecível pode ter óptimo sabor e apelo visual, de acordo com o feedback do consumidor. Mas por meio da análise do software de rastreabilidade em toda a cadeia de abastecimento, o produtor pode maximizar a vida útil das framboesas e reduzir a perecibilidade na loja. Resultado: aumento da receita para o produtor e para o retalhista e a satisfação do cliente».
O autor não tem dúvida de que a implementação destas e de outras tecnologias que respondem à demanda por uma maior transparência «mudará radicalmente as cadeias de abastecimento de alimentos nos próximos anos».
Este conteúdo foi escrito com base num texto de Richard Owen publicado em Dirt To Dinner e partilhado na newsletter do CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.
O artigo foi publicado originalmente em Revista Frutas Legumes e Flores.