O agroalimentar é o terceiro setor em termos de exportações e o segredo esteve “na crise”, revela Amândio Santos, presidente da Portugal Foods. “O setor estava muito fechado e confortável com o mercado interno e as empresas não olhavam para os mercados externos como alavanca e pensamento para as estratégias no futuro”, analisa.
“Quando o nosso próprio mercado nos destrói pela força da distribuição moderna que em 2008-2010, com a crise despontar, tinha uma grande resistência para a melhoria de margens para o setor, associada à quebra de consumo, obrigou as empresas a olhar para os mercados externos”. Assim, as exportações passaram de 3,5 mil milhões para 6,9 mil milhões em dez anos.
Há meia dúzia de anos não exportávamos pequenos frutos, em 2018 ultrapassou-se os 100 milhões em exportações. Amândio santos
Presidente da Portugal Foods
Quando se percebeu que a marca Portugal estava ao nível das internacionais, “não com o valor acrescentado da Itália, ou com a dimensão e a dinâmica da Espanha, mas percebemos que as frutas e legumes podiam crescer rapidamente. Há meia dúzia de anos não exportávamos pequeno frutos, em 2018 ultrapassou-se os 100 milhões em exportações, o vinho continuou a crescer apesar do mercado do Novo Mundo, como a Austrália e a Nova Zelândia”, analisa Amândio Santos. Além disso, conseguiu-se, depois de um longo processo, que se pudessem exportar carne para a China e com “um impacto enorme em toda a cadeia de valor, com o preço do porco a aumentar brutalmente”. Hoje exporta-se agroalimentar para um dos mercados mais exigentes do Mundo que é o Japão.
Há dez anos havia vários mercados fechados mas quando se criou esta dinâmica de cluster, os governantes acordaram e foram-se fazendo acordos com vários países e para dezenas de produtos. Por isso, “a lógica de cluster foi determinante”, sublinha Amândio Santos.
No caso da agroalimentar foi importante porque, como diz Amândio Santos, se criou o conceito de empresa-locomotiva, as empresas fortes do setor fazem-se acompanhar de outras empresas, “abriram a informação sobre os mercados a uma rede de empresas com potencial exportador”. A estratégia de eficiência coletiva que foi traçada há dez anos foi a base dos setores tradicionais considera Amândio Santos. Em 2008 o país estava presente em 100/110 eventos internacionais e era feito pelo AICEP, hoje com o modelo de financiamento com as associações, o país faz 700 em todos os setores.
Este gestor, oriundo da Derovo, referiu-se ainda à capacidade de gestão do setor agroalimentar e às capacidades de os empresários de “preparar a sucessão é exemplar, foram capazes de perceber que a nova geração tinha as competências que lhes começavam a faltar, ajudou ao grande salto qualitativo do setor”.
O futuro está na inovação
O futuro passa pelas plataformas e os clusters, porque “fazer investigação pré-competitiva em setores tradicionais é um investimento pesado para as empresas, se olharmos para o capital tecnológico e de conhecimento investido nos promotores de conhecimento e o colocarmos ao serviço das empresas em rede, isto tem de criar valor, produto. Nós investimos em ciência e em conhecimento, mas investimos em inovação, portanto é essencial que o paradigma desta relação entre as empresas e as universidades, passe pela capitalização daquilo que se investiu em conhecimento criando valor em produto, e este é o grande desafio do setor agroalimentar. Tem de pensar produto, cliente, consumidor”, refere Amândio Santos.