Na verdade, logo a seguir aos Grandes Incêndios, a Floresta ainda que queimada, vamos dizer, também estava disponível na expectativa dos impulsos concertados tendo em vista a sua regeneração. Impulsos que viriam do Ministério da Agricultura e do Governo até porque a situação ficou calamitosa nas áreas ardidas. Como é sabido, a Floresta tem um papel estratégico para a economia mas também o tem para o ambiente e para a qualidade de vida das Populações, as rurais mas também as citadinas.
Nós até costumamos dizer e sem querermos exagerar:- “Árvore minha amiga…Floresta minha vida !”.
Então, perante aquela violência brutalmente destruidora dos Incêndios, era legítimo esperar, e reclamar, que viessem medidas realmente excepcionais, capazes de nos arrancar do desastre e do desalento. Lamentavelmente não foi isso que aconteceu e não é isso que acontece.
Afinal, para o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural e para o Governo até parece que tivemos uns Incêndios um pouco duros mas não mais do que isso… Afinal, e passe a tragédia das mortes, foi “coisa” semelhante à que já nos tinha acontecido em ocasiões congéneres… E, note-se, isto com a agravante de cedo terem sido alertados para a extrema gravidade do caso e instados a actuarem de outra forma, com sabedoria, e em conformidade com a dimensão calamitosa do desastre inicial e, também, para logo enfrentar, a sério, as repercussões imediatas e futuras. Mas não quiseram ouvir quem assim interveio, quem alertou e propôs medidas concretas como, por exemplo, a CNA desde logo fez. Também por isso, tiveram intervenções, e omissões, desastradas.
Aliás, a Floresta, o Pinhal que sobreviveu aos Grandes Incêndios está hoje a ser “devorado” por pragas e doenças, o que constitui outra calamidade ! Enquanto isso, o Ministério da Agricultura produz umas declarações vagas mais ao jeito de “assobiar para o lado”…
Por vezes, em especial o Ministro da Agricultura lá vem com a conversa do costume a carpir a tradicional “falta de verba”…mas, agora, sabe-se já que não vai investir toda a verba que teve (e tem) disponível no Orçamento de Estado para o ano corrente ! Como é possível tamanha “incompetência” orçamental…também operativa…e também política???… E de tal jeito assim é que por vezes somos levados a dizer que mais do que falta de vontade política para actuar como se exige, o Ministro da Agricultura tem é revelado má vontade política contra os pequenos e médios Agricultores e Produtores Florestais lesados pelos Grandes Incêndios do ano passado e pelo Grande Fogo da Serra de Monchique, no caso já neste ano.
É evidente que não costumamos pedir a cabeça de Ministros que aquilo que mais importa e, aliás, mais difícil se tem revelado, é conquistar uma mudança nas políticas prosseguidas nas últimas décadas também naquilo que diz respeito à Floresta.
Cuidado com a aplicação da “lei Herodes” para os eucaliptos novinhos…
Atenção que o “mau da fita” não é a árvore eucalipto…
Pois então que se não cruxifique a Natureza enquanto se absolve a “grande plantadora e degoladora” de eucaliptos, a grande indústria de celulose…
O maior interesse estratégico das celuloses e hoje também já dos aglomerados e das indústrias de biomassas manda que se faça “quanto mais madeira melhor…ao mais baixo preço na produção” e deu no que deu:- a plantação indiscriminada e super-intensiva (monocultura) de eucalipto, o que, aliás, pode agora degenerar em outras espécies intensivamente plantadas.
Apesar disso, é um manifesto exagero virmos agora como uma espécie de “lei Herodes” para matar todos os eucaliptos novinhos, vindos em regeneração espontânea. Aliás, nem sequer é exequível, e em algumas situações em que não há alternativa, pelo menos no curto prazo, até é desaconselhável. Mais útil que matar todos os eucaliptos novinhos é desbastá-los em algumas zonas. Portanto, o mais necessário é agir com sabedoria e não fruto de certos “fundamentalismos”… Dos que plantam eucaliptos em regime super-intensivo, mesmo em terras com boa aptidão agrícola, e dos que os querem arrancar todos…
E sabedoria não é ir fazer, tipo impulso, acções, ainda que propagandísticas, de arranque indiscriminado de eucaliptos. Reflorestar áreas ardidas sem o ser a eucalipto, é uma tarefa estratégica mas não é para ser feita a “preto e branco” na secretaria assim:- arranca eucaliptos e planta outras árvores ! Em primeiro lugar, é necessário ouvir as Pessoas lá onde elas ainda estão, é indispensável estimular as Pessoas, convencê-las até muitas vezes sem pretender ser moralista ou paternalista. E não adianta “ameaçar” as Pessoas com a espoliação prática das suas parcelas ou com multas da GNR…
Neste contexto, afirmações ainda recentes do Ministro da Agricultura quando vem dizer (segundo a comunicação social) que as Pessoas sabiam que não é permitido plantar eucaliptos e que, por isso, agora têm que os arrancar de onde eles nasceram, tais afirmações roçam a anedota:- é que o Fogo, que semeou os eucaliptos para nascerem no pós-incêndios, simplesmente não quis saber das leis e das opiniões do Ministro da Agricultura e semeou eucaliptos aos milhões… E, agora, “obrigam-se” os proprietários florestais – que já tiveram prejuízos imensos com os Incêndios – a irem gastar mais dinheiro a arrancarem os eucaliptos todos que o Fogo e a Natureza plantaram e fizeram nascer nas parcelas ardidas… Não vai dar resultado que uma “coisa” dessas não acontece só porque “alguém” pretenda que aconteça…
E comprar árvores em massa para as distribuir massivamente – ao gosto “do freguês” – é um disparate “florestal” e financeiro. Desde logo porque primeiro é necessário saber o que plantar em cada zona de cada Município e até é necessário saber onde não plantar nada. É que, ninguém duvide, tão importante como reflorestar neste momento, é também saber prevenir – agora e estruturalmente – os incêndios florestais. Se não for assim, aquilo que hoje se fizer a reflorestar, corre sérios riscos em desaparecer com os próximos incêndios que, se não houver prevenção, virão destruir esse trabalho e anular o investimento feito. E, entretanto, para quê comprar as árvores em viveiros para a trabalheira de as ir carregar, e plantar e em que condições práticas? Ficará caro… Quem paga a factura ?
No caso do Pinhal, em especial, embora eu não pretenda fazer “doutrina”, direi que o mais exequível, e aconselhável, é arranjar semente-pinhão das nossas espécies mais tradicionais e, depois, sim, distribuí-la, à semente-pinhão, pelas Pessoas ou montar equipas, por Freguesia, para a semear embora sempre de acordo com os Proprietários.
E por que razão não há-de ser o Ministério da Agricultura e o Governo a fazerem aquilo que lhes compete:- preparar os planos de reflorestação e pagá-los !! Claro que em colaboração com os Municípios e com os Proprietários.
Portanto, muito cuidado com a “lei Herodes” para os eucaliptos novinhos!
Não, à aplicação da máxima da – “dura lex sed lex” – para os eucaliptos e para os Proprietários Rurais!
Haja sabedoria na urgência e que não nos falte a paciência!
João Dinis
Pequeno Produtor Florestal lesado pelos Incêndios de Outubro.
Membro do “Grupo Céus Limpos”
Membro da Direcção da CNA, Confederação Nacional da Agricultura
https://www.agroportal.pt/wp-includesendio-de-monchique-e-silves-e-exemplo-de-desequilibrio-operacional/