Ontem perdi algum tempo a procurar informação sobre os resultados do protesto pela floresta do futuro.
A razão pela qual perdi algum tempo é que embora seja fácil e abundante a informação sobre a convocatória deste protesto, as notícias sobre o que se passou durante o protesto são quase inexistentes.
A razão pela qual me interessava ter informação fiável da adesão a este protesto é que a convocatória, amplamente divulgada, era subscrita por várias organizações (incluindo um partido que apelava à participação, o PAN) e pessoas conhecidas do meio ambientalista, e o texto era bastante radical, quer na análise da situação e propostas para mudar o futuro, quer na ignorância militante sobre o assunto em que se pretendia intervir.
Ao contrário de mim, que estava interessado em avaliar o enraizamento social do modelo leninista de intervenção ambiental (uma vanguarda esclarecida que se sente ungida do dever de criar a felicidade para todos, pela força se necessário, enquanto as pessoas comuns não percebem qual é a linha justa que as pode conduzir à felicidade), uma das organizadoras da marcha de Lisboa queixava-se, não da falta de participantes, mas da falta da RTP, demonstrando que a preocupação central é ocupar a comunicação, para impor uma visão do mundo, não é compreender as razões pelas quais as pessoas gerem as suas vidas como gerem.
Embora a proposta de cartaz que está na ligação acima refira marchas em Lisboa, Porto, Coimbra, Odemira, Arganil, Vila Nova de Poiares, Oliveira do Hospital e Proença a Nova, tenho ideia de que não houve marchas em Arganil, Oliveira do Hospital e Proença a Nova, havendo, por outro lado, uma marcha na Sertã.
Do que vi de fotografias e vídeos, as marchas terão tido participações diferentes, como é natural, andando pelas vinte pessoas nas menos concorridas e pelas cem pessoas nas mais concorridas (enfim, se em vez de cem, forem duzentas, apesar de ser um aumento do simples para o dobro, não altera nada de essencial).
Claro que não se pode avaliar o enraizamento social (e muito menos a justeza) de uma ideia pelos números de pessoas que se juntam numa marcha mas, ainda assim, não é irrelevante verificar que logo após a comoção de sempre com os fogos (apesar de um ano especialmente benigno, por falta de comparência do vento, quando estava seco, e por falta de comparência da secura, quando estava vento), umas marchas largamente publicitadas não consigam juntar mais de cem ou duzentas pessoas, mesmo em Lisboa ou Porto.
Em parte esta dificuldade de mobilização das pessoas é transversal, e não vou andar aqui a fazer sociologia barata para tentar explicar as razões para isso, mas um nível tão baixo de mobilização, que contrasta com o favor mediático de que gozam as ideias que estão na base desta convocatória, não deixa de ser intrigante.
O artigo foi publicado originalmente em Corta-fitas.